sábado, 3 de fevereiro de 2007

Estado de Paz - 23


Obrigado por ti. Afinal, a tua existência sempre tem um significado para alguém. Ou pensavas que eras tão insignificante ao ponto de pensares que existires não faz diferença para ninguém? Todas as coisas têm um significado para além das aparências, do mundo da ilusão. Tudo o que conhecemos como realidade são, afinal, símbolos. Pequenos, ou grandes, simples, ou complexos, códigos que encerram uma única finalidade. O código nunca é o fim em si, o objecto em si, o sujeito em si. Um exemplo é a assinatura. A assinatura é um código, um símbolo, uma representação simbólica, uma extensão de alguém, e não a pessoa em si. A pessoa faz-se representar, anunciar a sua presença, e/ou conhecimento, e/ou consentimento, através da assinatura. E, nalguns casos, tem a mesma força, o mesmo significado da presença física, actual naquele momento, da pessoa. Poderemos dizer, então, que as pessoas são assinaturas? Ou que as assinaturas são pessoas? Não faz sentido. Na nossa mente está clara a distinção entre uma coisa e outra porque aprendemos e interiorizámos esta representação simbólica.

Mas, há mais representações. Uma fotografia. O que é uma fotografia? É uma representação de um momento do passado, um registo, uma memória, que é possível transportar e apresentar no presente. Mas a fotografia é o momento em si, ou sendo um retrato, é a pessoa em si? Não é. Mas, nalguns casos, tem a mesma força e valor da presença física da pessoa. Poderemos dizer, então, que as pessoas são fotografias? Ou que as fotografias são pessoas? Não faz sentido. Mais uma vez porque aprendemos e interiorizámos este conceito banal. E se em vez de uma fotografia fosse uma filmagem em vídeo? É muito semelhante, e poder-se-ia dizer e aplicar o mesmo ao filme. Contudo, existem representações simbólicas que ainda não foram interiorizadas, não fazem parte do nosso consciente. E se em vez de uma câmara de filmar, falarmos dos nossos olhos? O que vemos é um registo e em cada instante registado como uma memória. Essa memória é o momento em si? Já vimos que não. Mas pode ter a mesma força, o mesmo significado do momento em si. Então, tudo na vida, é uma representação simbólica, a escrita, a imagem, o próprio conceito de comunicação. Representar, ou melhor re-presentar, é voltar a fazer presente. O prefixo “re” significa outra vez, de novo. Aquilo que concebemos como presente é uma repetição simbólica do verdadeiro Presente, do Presente real. É como se existisse uma realidade que para a vermos a tivéssemos que encenar em cada instante e chamássemos a essa encenação: presente. Assim, a realidade (como a concebemos) não é real. Se não é real é simbólica, é uma ilusão. Mas nem sempre a ilusão tem o propósito de enganar. Pode apenas ser uma forma mais simpática e prática de apresentar algo. É desta forma que vejo tudo e toda a gente. Seres e acontecimentos simpáticos, ou não, mas cuja existência real está muito para além da aparência, da ilusão a que chamamos realidade. Todos estes seres e situações, acontecimentos, são extensões da verdadeira (e única) realidade que se manifesta em tudo e em todos simultaneamente. No fundo, tudo aponta para que sejamos todos Um, um por todos e todos por um. E assim a tua existência é de facto significativa na vida de cada um, e a existência de cada um é de facto significativa na tua vida. Por isso, qualquer guerra é sempre um auto-prejuízo Qualquer exclusão é uma auto-exclusão. Qualquer discriminação é um pedaço de si próprio que se tira.

Paz é a prática da Realidade manifestada no mundo da ilusão. A Realidade é o Amor. A prática constante do amor transcenderá a necessidade da ilusão.

A continuar…

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