domingo, 5 de agosto de 2007

Estado de Paz - 33




Obrigado por seres quem és. Ainda te lembras de quem és, não lembras? Dos teus sonhos, aspirações, dos projectos que tinhas para a vida, do que querias fazer, do que querias ser. Se os realizaste então nunca te esqueceste de ti. Se desististe deles então desististe de ti. Estou aqui para reactivar essa memória, pelo menos durante a leitura deste texto. À medida que os olhos passam pelas palavras são invocadas as memórias desse tempo. Não significa isto que as mudanças de rumo são negativas, nem tão pouco que nos devamos manter fiéis aos primeiros pensamentos que temos sobre algo. Quero apenas lembrar que existe em ti uma criança sonhadora e que ela só faz parte do passado se assim entenderes. Quantas vezes não nos limitámos no sonho porque não nos queríamos desiludir? Por medo que algo corresse mal e ele não se concretizasse? Assim, mais valia irmos ao dia-a-dia, sem expectativas não há mágoas. Não passa de uma ilusão como é óbvio. O sonho é a mente a dizer-nos que somos livres. Que nos devemos soltar dos impedimentos, sobretudo do medo, e pelo menos tentar com convicção, de coração e com total entrega à realização desse sonho. E quanto mais elevado e abrangente maior felicidade trará. Não me refiro aos sonhos de bens tangíveis, de bens materiais, esses não são um fim em si mas deverão aparecer, se for caso disso, como um meio ou bónus da nossa entrega. Refiro-me às mais altas aspirações do nosso ser. Ser livre, ser feliz, ser alegre, fazer alguém feliz, levar alegria, partilhar experiências, crescer enquanto cidadão do mundo, expandir o conceito de família ao próximo. Mas o passado e a memória poderá parecer um entrave. Pois por experiências anteriores ou por algo que vimos ou ouvimos, quanto mais nos damos mais receio temos de nos dar. Ficamos vulneráveis e podem abusar da nossa boa vontade e estragar o sonho, deixando-nos magoados, desiludidos, depressivos. Desta forma chegamos a um impasse. Por um lado não conseguimos viver sem sonhar, por outro temos medo de realizar o sonho. Por outras palavras, para não vivermos presos abrimos a porta para sair, mas nesse instante alguém pode entrar. E agora? Abrimos a porta ou não? O que protege a porta? Do que deve proteger? Por que deve proteger? A porta é um símbolo de protecção, de segurança. Por que és inseguro(a)? O que te falta? É perante os nossos medos que nos revelamos verdadeiramente. Com paciência e persistência, devemos olhar-nos e reconhecer esses medos e perdoá-los. As suas origens, os seus intervenientes, as memórias que deixaram. O perdão é como a digestão. Nem tudo no alimento é para ser absorvido e mantido. Há que reter e absorver os nutrientes e libertar para outra fase o restante. Ninguém gosta de ser incomodado com cólicas, “nós no estômago” ou prisão de ventre. É sinal que algo deixou de fluir, algo está a ser retido e a interromper o fluxo. Se durar muito tempo pode causar graves distúrbios de saúde. As situações de tensão, o stress, e as memórias mal tratadas podem causar tudo isto. Mas não há nada, nada mesmo, que o amor não seja capaz de transmutar, de resolver, de transformar. A doença só se desenvolve/existe na ausência de amor. Recuperado o estado inicial de amor por ti e pelos outros, tudo volta ao sítio. Não esquecer que este é um processo individual e colectivo, e nem sempre o que parece ser é. Paz é a capacidade de se ser sempre o que se é, sempre foi e sempre será. Como se de um regresso ao destino se tratasse.

A continuar…

M.A.S.

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