quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Estado de Paz - 36




Obrigado por seres quem és. Agradecer é muitas vezes a forma de fazer sentir a alguém a sua importância para nós e para o mundo, e de quanto é útil naquilo que faz. Ajuda a devolver algum respeito próprio, amor próprio, sem necessidade de presunção ou auto-defesas. Se algo é feito por amor, por serviço e dedicação ao próximo, com simplicidade e competência, e se for agradecido na mesma medida, gera-se uma empatia entre as pessoas e uma auto-confiança tranquilizantes.
Quando as coisas são feitas apenas em nome do dever, seja funcional ou operacional, seja deontológico, a resposta surge na mesma medida. É o “paga-se e pronto”, não há lugar à gratidão. Gera-se, desta forma, um ciclo de distanciamento, apatia social, frieza relacional. É como se eu agora, em idade adulta, pagasse aos meus pais pelo serviço prestado até me ter tornado autónomo financeiramente, e assim nada mais ter a ver com eles em termos emocionais ou de relação. O que fizeram está feito e pago, logo não lhes devo mais nada. É absurdo. Tão absurdo como as restantes formas de ingratidão a que assisto diariamente, e nalgumas das quais participo, por vezes inadvertidamente outras por força das circunstâncias. O ter acontecido no passado ou acontecer no presente não invalida que haja um trabalho de reflexão para aceitar e integrar uma nova forma de estar na vida. E a partir daí agirmos de modo diferente e activo do que fazíamos até então. Porém, ainda existe muito imobilismo, muita acomodação e passividade nas nossas acções. Tantas vezes que vemos que algo não está bem e que até sabemos ou podemos fazer melhor e não fazemos. Pode ser por medo, por vergonha que alguém note, por falta de coragem, por falta de vontade, mas seja o que for que nos falte, poderá também faltar nos outros em relação a nós. Mas isso já nos incomoda. Era muito mais interessante se todos tivéssemos uma abordagem vegetal da vida. É preciso semear e nutrir para colher. Ah e é preciso terreno fértil, não é? Sim, mas isso não é problema! O coração é o terreno mais fértil que há, e consta que cada um tem um, por isso não falta em ninguém. Semear implica mexer-se, agir, não é ficar sentado à espera que o mundo ou alguém mude, nem é rezar para que venha alguém mais habilitado para fazer a minha parte. Posso ser tosco, deficiente, lento, incapaz, inútil, pequeno, insignificante, medroso ou envergonhado, mas mesmo assim não há ninguém mais habilitado do que eu para fazer a minha parte. Relembro que este processo é individual e simultaneamente, repito, simultaneamente colectivo. Ou seja, eu faço a minha parte mas não quer dizer que a faça sozinho desligado de tudo o resto. Nenhum puzzle se completa com a colocação em posição de apenas uma peça, nem se completa se faltar alguma. De nada adianta a pressa de estarmos prontos em posição ignorando as restantes peças. Uma forma de participarmos na montagem do puzzle e de ajudarmos as outras peças a reconhecerem a sua posição/papel é agradecer-lhes fazerem parte do mesmo “cenário” do que nós. A sua existência é o que nos permite colocarmo-nos na nossa posição e simultaneamente nos permite ser úteis ajudando-as a colocarem-se na sua. Há uma ligação constante. Fazer-se passar por insignificante na vida é negar a sua razão de existir. Todas as partes são tão grandiosas como o todo do qual fazem parte. É o princípio da holografia elevado ao amor divino. No Amor não há partes insignificantes. Paz é assumir-mos, mesmo de forma modesta, na nossa quietude, a grandiosidade que é a Vida. A nossa e a dos outros… e que afinal é a mesma.

A continuar…

M.A.S.

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