quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Estado de Paz - 37




Obrigado por seres quem és. Algo vai mal contigo. Ou então comigo. Mas não te oiço a falar de amor. Não te vejo a manifestar felicidade. Não te vejo a celebrar a amizade. Não te oiço a agradecer. Não te oiço a felicitar os outros. Só vejo preocupações. Só vejo apreensões. Só vejo medo. Só vejo insegurança. Só oiço queixas e mais queixas. Dizem que os portugueses são pessimistas por natureza. Mas não existe pessimismo na natureza. A natureza é um quadro dinâmico da perfeição e harmonia da mudança e coexistência. Então de onde vem o pessimismo? O pessimismo é a uma reacção de auto-protecção face a uma expectativa da negação da idealização que temos de algo. Simples, não é? Vamos lá a um exemplo. Eu idealizo ser feliz. Mas como isso é tão bom e preenche-me tanto que não suportaria alguém poder tirar-me tal sentimento, o melhor é proteger-me estreitando a janela da vulnerabilidade. Então, como pode (expectativa) vir alguém ou surgir alguma situação que me faça infeliz (negação) reajo sendo pessimista (reacção), “a vida está má!”, “não sei bem como vai ser o futuro!”, “isto está mau.”. O mais estranho ainda é que mesmo que a vida me corra bem, mesmo bem, não posso dizê-lo, não vá melindrar ou ofender alguém! Porque a vida tem ciclos, uns que nos permitem andar mais folgados outros mais apertados. Mas o discurso e a aparência mantém-se nas duas fases. Imagina se a natureza fosse assim! Quando chegasse a Primavera para não mostrar a sua face mais florida, mais romântica, mais alegre, a natureza se mantivesse com a aparência de Inverno, sem flores, sem frutos, sem verde, cinzenta... Mas a natureza, mesmo em mudança constante, é livre. Pelo menos era o que eu pensava. Mas com as mudanças climáticas é como se passasse a ter mudanças de humor, como se tivesse sido infectada pela nossa arrogância existencial. Estou a brincar. Não existem mudanças de humor. Existem apenas mensagens. Mentes turbulentas geram naturezas turbulentas. Mentes serenas geram naturezas serenas. Em caso de dúvida, sugiro sempre que se experimente. Tens dúvidas que podes ser feliz? Experimenta. Tens dúvidas sobre uma qualquer capacidade tua? Experimenta. Mas leva duas amigas. A paciência e a persistência. São inseparáveis. Iluminam e nutrem. Se as coisas parecem correr para o torto e pensas “Estou a ver a coisa a ficar preta…”, então usa a paciência e a persistência com sabedoria, depois da noite nasce sempre o sol. Se as coisas não te deixaram completamente satisfeito usa a paciência e a persistência com sabedoria, sabendo que se o almoço foi leve ao lanche dá-se mais uma achega. Como vês iluminam e nutrem. Para terminar, quero dizer-te que se olhares a vida de frente tudo muda em relação ao pessimismo. De frente não significa em sinal de confronto como se estivesses perante um adversário numa luta, de frente significa que há muito para contemplar e muito onde podes ser útil, mas para isso tens que estar atento olhando à tua volta. Passámos demasiado tempo a olhar para baixo, para o pé-de-si-mesmo (“pe-si-mismo”), chegou a hora de levantar a cabeça. Só assim verás mais longe, mais além. Verás finalmente quantas mãos sempre estiveram e estão estendidas para ti, e verás quem necessita que estendas as tuas. Paz é a capacidade de se ver a si mesmo de uma maneira diferente, mais cheia e preenchedora. Somente depois de se ter algo se pode partilhar. Ninguém pode dar aquilo que lhe falta. E não precisas tirar nada de ninguém basta reconheceres a abundância que é a Vida.

A continuar…

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