quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Estado de Paz - 39




Obrigado por seres quem és. És um ser verdadeiramente belo, à semelhança da restante diversidade na Natureza que é inexplicavelmente bela e sem sabermos porquê nos atrai. Assim és tu. Hoje gostava de te falar do desespero. É para mim um tema interessante visto ser um comportamento tão comum, com as mais variadas origens, não conhecendo fronteiras e transcendendo culturas. O desespero é um sinal. É um sinal que de já está consumada ou em vias de consumar a desistência. A desistência de si próprio. Tem, no entanto, uma propriedade interessante, serve ambos os lados, do equilíbrio e do desequilíbrio, da harmonia e da desarmonia. Muitas vezes aquele que na procura de si, desistiu de si próprio, finalmente se encontra. Mas aquele que tudo procura esquecer inclusive a si próprio, dificilmente se encontra. O desespero é desistir de esperar, “des-espero”, nego o esperar. A vida vai sendo feita de ciclos para quem vive em ciclos. Para quem espera algo bom depois de algo mau isso eventualmente acontecerá. Para quem espera algo mau depois de algo bom isso eventualmente acontecerá. Contudo, na natureza há entrega total, nada se espera de nada e por isso tudo ocorre naturalmente, dentro da perfeição. Depois da noite virá o dia, num ciclo natural, e tudo tende para o equilíbrio. O desespero é o mexer no fiel da balança. Não se confia no equilíbrio natural para se forçar um equilíbrio artificial mas não existe tal coisa. O equilíbrio artificial é sempre efémero bem como toda e qualquer tentativa do ser humano para restabelecer o equilíbrio do quer que seja.
Muitas vezes se mistura o desespero com a ansiedade, com a incerteza, e tudo serve para enraizar ainda mais um estado de medo permanente. Quem desespera esqueceu-se de como confiar. Perdeu o controlo sobre tudo mas em vez de usar isso como uma ferramenta, deixa-se afundar. Um surfista jamais controla uma onda. No entanto, ele entrega-se totalmente à onda e com a técnica adequada e algum treino sabe como usá-la para, sem esforço algum, ir ao ritmo da onda, apenas pelo prazer do momento. Mas se estiver em estado de desespero, logo perde o equilíbrio e cai ou simplesmente está tão preso a uma necessidade da onda perfeita, do momento perfeito que acaba por não tirar partido de cada segundo do está a viver.
O desespero é um sinal. É um sinal que estamos prontos a abdicar da nossa teimosia, da nossa intransigência, dos nossos conflitos, que estamos no limite das nossas forças para nos mantermos num estado que julgamos o normal. E no entanto o desespero é a perfeição em acção. Foi a ferramenta que a mãe natureza encontrou para, no nosso caso, tender para o equilíbrio. Talvez tenha sido confuso ou pareça contraditório mas vejamos. Se a minha teimosia leva o fiel da balança mais a um lado, para se reaver o estado de equilíbrio terá que haver compensação. Mas na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. E o que deve ser transformado é o estado que alterou o equilíbrio, ou seja a minha teimosia. Caso a nossa intransigência nos impeça de ver esta situação ou de a aceitar, bater-nos-á à porta, mais dia menos dia, o equilíbrio disfarçado de desespero. Só assim baixaremos as defesas, nos entregaremos e nos predisporemos a aceitar a perfeição que nós somos e tudo é. É uma limpeza profunda. Paz é o bypass, um caminho alternativo, ao estado de sofrimento e de desespero durante este processo de reequilíbrio. A paz faz-se amando.

A continuar…

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