quinta-feira, 26 de junho de 2008

Estado de Paz - 47




Obrigado por seres quem és. Como sabes tudo está em constante mudança. Muitas vezes fico a pensar qual a direcção dessa mudança, onde nos leva, como nos leva, e contemplo a beleza desse processo. Um dia destes fiquei a pensar se Jesus Cristo voltasse outra vez como seria para ele olhar para o mundo actual? O que diria ele destes 2000 anos? O que pensaria? O que faria? Em que família nasceria, em que país, em que sociedade? O mais estranho que me surge, logo à partida, é que nunca poderia ser filho daqueles que lhe dedicam a vida inteira: padres e freiras. Pelos votos que fizeram manifestaram a intenção de pertencer à família de Jesus/Deus para o resto da vida, por outro lado esses mesmos votos garantem que a negação disso mesmo, nunca mais poderão receber no seu seio familiar, como ascendentes, um Ser tão maravilhoso quanto Jesus Cristo. Que paradoxo! Diz a história que Maria ficou grávida antes do casamento ainda que por intervenção divina. Passados 2000 anos como vemos as gravidezes fora do casamento? Aceitamos? Ou associamos a um estigma, uma vergonha social ou mesmo religiosa? Que paradoxo! Como seriam os avós de Jesus? Já imaginaram a Maria a chegar a casa e a dizer ao pai: “Olha pai, estou grávida! Mas não foi o José. Foi o espírito santo!”. Qual seria a vossa reacção? Será que há 2000 anos atrás eram assim tão avançados socialmente que estas coisas passavam em claro? Avançando para o dia do baptismo. E se os pais de Jesus, nesta nova vinda, não o quisessem ou não achassem necessário baptizar (partindo do princípio que também saberiam quem ele era)? Não entrava na Reino de Deus? Mas se é lá a sua origem, como não entra? Que paradoxo! Avançando… temos, agora, um menino Jesus em idade de ir para a catequese. O que vai ele lá fazer? Falar da vida dele de há 2000 anos? E há 2000 anos atrás? De que ele falou ele? Do passado, do presente ou do futuro? Segundo a história, quantas vezes falou ele da sua própria vida? Dos seus feitos? Quantas vezes pediu para se falar de si e dos seus feitos? Quantos livros deixou escrito? Que catecismo sugeriu? Que catecismo utilizou? Avançando… como seria o dia da primeira comunhão? Iria receber pela primeira vez a comunhão, que representa o corpo e sangue de Cristo. Iria tomar-se a si mesmo? Que estranho, mesmo só de imaginar. Não faz muito sentido aceitar-se isto. Aqueles que se celebram a si mesmos são todos ou quase todos considerados tiranos, diabólicos, criminosos… são os tempos que correm. Bom, mas para comungar teria que primeiro confessar-se. Mas como poderia ele confessar os seus pecados se nos veio salvar do pecado? Ele representa a ausência de pecado logo nunca se poderia confessar, logo não poderia comungar, nem fazer a primeira comunhão. Estranho!
O objectivo destas palavras não é ridicularizar ninguém, nem tão pouco as mesmas devem ser vistas como uma paródia. Têm a importância que têm. Servem apenas para reflectir no que andamos a fazer todos os dias sem consciência disso mesmo. Se Cristo voltasse agora encontraria uma igreja/religião cuja estrutura doutrinal está montada de tal forma que deixou de haver lugar para receber aquele Ser na qual se baseia. Como pode não haver lugar na criação para o criador? Será por isto que ainda não assumimos a nossa origem divina? Existe uma exclusão funcional, no subconsciente, da nossa essência? Negamos a manifestação do mais belo que somos, da imagem e semelhança, do amor em acção? Paz é a capacidade de nos assumirmos sem julgar nada nem ninguém.

A continuar…

M.A.S.

Sem comentários: