quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Estado de Paz - 20




Obrigado pela paz radiante e intensa que emanas e nos contagia. És a verdadeira razão da minha existência. Existir sozinho ou existir apenas entre iguais parece-me igualmente monótono e sem graça. Penso que seria um desperdício divino não podermos partilhar conjuntamente este local maravilhoso e percepcioná-lo como um paraíso. Mas para que isso aconteça temos que respeitar e aceitar as nossas diferenças e fazer com que as nossas semelhanças na essência do amor que somos nos catapultem para um estado de consciência e uma forma de ser na vida, pacífica, harmoniosa, íntegra e integral. No amor tudo é integrável. Há quem diga até que há diversas formas de amor. Será assim? Cada um saberá de si, mas para mim amor há só um, Uno, indivisível. Porém, cada um o olha de diversas formas, amor de mãe, amor Divino, fraterno, de amigo, de marido, etc. Mas ao criar estas diferenças, gera-se uma divergência, um afastamento da essência do amor. O amor, o único e genuíno amor, não quer saber de laços. Na verdade, eu diria até que o Amor é burro, ignorante. Não quer saber de nada. Como assim? Por acaso não correm rios em terras de terroristas? Não brilha o sol em países de assassinos? Não empresta a árvore a sua sombra a pedófilos? Não brota a flor no jardim de uma prisão? Não ilumina o farol o navio dos piratas? Não roda a Terra quer esteja cheia de quem diariamente a polui quer esteja cheia de quem diariamente por si zela? Isto é amor. Transcende divisões, exclusões, julgamentos. É absolutamente coerente unicamente consigo próprio e não se rege por nenhuma lei. No entanto, e sem culpa nenhuma, que não a da sua simplicidade desconcertante, o Amor está na origem de todas as leis. Sejam elas religiosas, jurídicas, científicas, do pensamento (lógica). Não deixa de ser interessante também que, num movimento de auto-reconhecimento, quando alguém está apaixonado, o seu comportamento anómalo revela traços de uma burridade omnipresente e de uma constante falta de lógica. Somos levados, depois, a domesticar este sentimento de modo a enquadrá-lo no conjunto das leis pelas quais nos regemos, mas isso é como tentar encadear o sol com uma lanterna. Só acredita que é capaz quem quer.
Seremos, então, capazes de viver ou não sem leis? Há quem pense que se não houvessem leis seria o caos. Isso é verdade, pelo menos parcialmente. Se o Amor está na génese das leis, o caos não vem da ausência das leis, mas sim da ausência de Amor. Como a nossa essência é Amor, o único local de manifestação possível para o caos é na nossa falta de aceitação e reconhecimento do Amor que somos. Este local é o que chamamos dia-a-dia. Mas ultimamente e de uma forma colectiva, consciente ou não, estamos a ser chamados a reflectir nisto, quer pelas religiões (pelos bons motivos ou pelos menos bons), quer pela desgovernação política do nosso mundo, quer pela nossa própria intuição que nos faz sentir que algo necessita de mudança urgente, dentro e fora de nós. Por enquanto, essa mudança, e pela nossa herança comportamental, é feita com rompimento, corte radical. São os divórcios, os homicídios, os suicídios, os desempregamentos colectivos, as catástrofes naturais, etc. Eu diria que para estes, no comboio das mudanças, a carruagem da mudança exterior vem primeiro que a carruagem da mudança interior. E que há pessoas cujas mudanças são a vapor e outras são do tipo TGV. Outros seres há, cujos corações são tão leves e flutuantes que não necessitam de comboio. Eles são os próprios carris, co-responsáveis pelo sentido da mudança em cada um de nós. Paz é capacidade de sabermos mudar sem termos que mudar os outros. É sabermos sanar as nossas feridas com o curativo do perdão, da gratidão, e do legado às gerações vindouras. E se alguma política é necessária que seja a da mão-dada ao invés da mão estendida.

A continuar…

M.A.S.

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