domingo, 10 de dezembro de 2006

Estado de Paz - 19



Obrigado pela tua beleza. És um ser incomparavelmente belo. És um ser incomparavelmente único e amoroso. Normalmente somos treinados para, e se for caso disso, reconhecer mais facilmente a beleza dos outros. Temos dificuldades, de várias naturezas, para reconhecer a nossa própria beleza. Há quem diga que temos que ser positivos, ver a vida de uma forma positiva, nos devemos valorizar e/ou valorizar os outros. Isto, de um determinado ponto de vista até que não soa mal, mas deve ser visto apenas como indicativo de uma direcção e não o destino em si. Porquê? Se eu quiser um caminho mais directo da zona de Leiria até ao Algarve e se pedir indicações nesse sentido, ninguém me indicará uma passagem pelo Porto, mas Lisboa será um ponto de passagem. Neste caso, o Porto será uma direcção que não nos interessa seguir para chegarmos ao nosso destino; Lisboa será um ponto de passagem e Algarve mantém-se como o destino. Na direcção do viver em pleno passa-se algo semelhante. Ver a vida de forma positiva será o equivalente à indicação Lisboa, um ponto de passagem mas não o destino. Ver a vida de forma positiva, valorizar-nos e aos outros, poderá ser como trocar de óculos ou lentes de contacto e criar apenas outra ilusão para esconder a ilusão original. Valorizar alguém é atribuir-lhe valor; para atribuir valor tem que haver um julgamento por comparação, um referencial. Ora, se somos todos seres únicos, incomparavelmente únicos, qual é o referencial? Não há? Claro que há. Valorizar alguém é sobrepormo-nos ao lugar de Deus (independentemente da religião ou não religião de cada um), da consciência criativa Divina, como se alguém só valesse alguma coisa depois de ser valorizado por nós. A perfeição de cada um, mesmo antes de darmos conta dela, já lá estava, está e estará. Apenas temos que Reconhecer essa perfeição. Não valorizamos coisa alguma. Ou reconhecemos o valor/potencial ou não. Ao Reconhecer não interferimos na origem do valor/potencial, apenas entramos em sintonia com ele ou não.
Ver a vida de forma positiva? Isto em termos absolutos não existe. Se reconhecermos a perfeição do processo da vida, do binómio complexidade/simplicidade, intenção/inocência e entrarmos em sintonia com esse processo, com essa forma rejubilantemente criativa, é impossível não viver em estado de alegria. Se forçarmos a nossa visão, seja em que sentido for, então apenas estamos a trocar de filtro e não a transcendê-lo e a passar para a fase seguinte.
Qual é então o referencial que atrás referi? Aquele que se mede pelos outros nunca se encontrará a si mesmo. No entanto, é graças à presença dos demais que nos damos conta das nossas fraquezas e capacidades. O referencial é sempre a manifestação amorosa, da nossa essência, na relação connosco e com os outros. Nunca nos vamos manifestar e realizar em pleno isolando-nos, nem nunca nos vamos manifestar e realizar em pleno procurando o referencial, o ídolo, a imagem, num qualquer outro sítio que não seja o nosso coração, sejam eles estrelas da música, cinema, política, gurus ou Messias. Porém, não os excluamos. Por tudo o que nos fizeram sentir e em nós despertaram fazem também parte do nosso processo de redescoberta e tomada de consciência. Um dedo não é o corpo, uma mão não é o corpo, 2 braços e 2 penas não são o corpo. Mas a interacção de todas as partes e a harmonia entre elas, farão com que nos apercebamos da perfeição do corpo, e reconheçamos o valor da função perfeita e adequada de cada uma das partes.
Paz é a libertação da necessidade de valorizar a perfeição passando-se a reconhecer aceitando-nos como parte dela, e realizando-a em cada uma das nossas acções, palavras e pensamentos.

A continuar…

M.A.S.

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