quinta-feira, 26 de junho de 2008

Estado de Paz - 47




Obrigado por seres quem és. Como sabes tudo está em constante mudança. Muitas vezes fico a pensar qual a direcção dessa mudança, onde nos leva, como nos leva, e contemplo a beleza desse processo. Um dia destes fiquei a pensar se Jesus Cristo voltasse outra vez como seria para ele olhar para o mundo actual? O que diria ele destes 2000 anos? O que pensaria? O que faria? Em que família nasceria, em que país, em que sociedade? O mais estranho que me surge, logo à partida, é que nunca poderia ser filho daqueles que lhe dedicam a vida inteira: padres e freiras. Pelos votos que fizeram manifestaram a intenção de pertencer à família de Jesus/Deus para o resto da vida, por outro lado esses mesmos votos garantem que a negação disso mesmo, nunca mais poderão receber no seu seio familiar, como ascendentes, um Ser tão maravilhoso quanto Jesus Cristo. Que paradoxo! Diz a história que Maria ficou grávida antes do casamento ainda que por intervenção divina. Passados 2000 anos como vemos as gravidezes fora do casamento? Aceitamos? Ou associamos a um estigma, uma vergonha social ou mesmo religiosa? Que paradoxo! Como seriam os avós de Jesus? Já imaginaram a Maria a chegar a casa e a dizer ao pai: “Olha pai, estou grávida! Mas não foi o José. Foi o espírito santo!”. Qual seria a vossa reacção? Será que há 2000 anos atrás eram assim tão avançados socialmente que estas coisas passavam em claro? Avançando para o dia do baptismo. E se os pais de Jesus, nesta nova vinda, não o quisessem ou não achassem necessário baptizar (partindo do princípio que também saberiam quem ele era)? Não entrava na Reino de Deus? Mas se é lá a sua origem, como não entra? Que paradoxo! Avançando… temos, agora, um menino Jesus em idade de ir para a catequese. O que vai ele lá fazer? Falar da vida dele de há 2000 anos? E há 2000 anos atrás? De que ele falou ele? Do passado, do presente ou do futuro? Segundo a história, quantas vezes falou ele da sua própria vida? Dos seus feitos? Quantas vezes pediu para se falar de si e dos seus feitos? Quantos livros deixou escrito? Que catecismo sugeriu? Que catecismo utilizou? Avançando… como seria o dia da primeira comunhão? Iria receber pela primeira vez a comunhão, que representa o corpo e sangue de Cristo. Iria tomar-se a si mesmo? Que estranho, mesmo só de imaginar. Não faz muito sentido aceitar-se isto. Aqueles que se celebram a si mesmos são todos ou quase todos considerados tiranos, diabólicos, criminosos… são os tempos que correm. Bom, mas para comungar teria que primeiro confessar-se. Mas como poderia ele confessar os seus pecados se nos veio salvar do pecado? Ele representa a ausência de pecado logo nunca se poderia confessar, logo não poderia comungar, nem fazer a primeira comunhão. Estranho!
O objectivo destas palavras não é ridicularizar ninguém, nem tão pouco as mesmas devem ser vistas como uma paródia. Têm a importância que têm. Servem apenas para reflectir no que andamos a fazer todos os dias sem consciência disso mesmo. Se Cristo voltasse agora encontraria uma igreja/religião cuja estrutura doutrinal está montada de tal forma que deixou de haver lugar para receber aquele Ser na qual se baseia. Como pode não haver lugar na criação para o criador? Será por isto que ainda não assumimos a nossa origem divina? Existe uma exclusão funcional, no subconsciente, da nossa essência? Negamos a manifestação do mais belo que somos, da imagem e semelhança, do amor em acção? Paz é a capacidade de nos assumirmos sem julgar nada nem ninguém.

A continuar…

M.A.S.

sábado, 12 de abril de 2008

Estado de Paz - 46




Obrigado por seres quem és. É com alegria que devemos agradecer a presença de todos na nossa vida; sem essa presença toda esta experiência chamada vida seria árida e estéril. Ainda assim, noto ainda uma falta de consciência sobre a riqueza que é diversidade de opiniões, crenças, etc. Há falta do espírito do coleccionador. Qualquer coleccionador de qualquer coisa é uma pessoa dedicada a esse hobby, a essa ocupação de fazer crescer a sua colecção, organizá-la, expô-la. Quem colecciona sabe também que quanto mais raro um determinado objecto de colecção maior o seu valor, por exemplo uma moeda rara, um selo raro, um carro, uma quadro, uma escultura, um instrumento musical, seja o que for. E, é natural que perante esse objecto mais raro haja um cuidado especial, que lhe seja dedicada ainda mais atenção ou que seja manuseado de uma forma mais delicada. Normalmente é-lhe guardado um lugar de destaque em relação ao resto da colecção. Assim, os exemplares raros de uma colecção têm sempre mais valor, muitas vezes se diz perante algo verdadeiramente raro que não tem preço ou que tem valor incalculável. Este é o espírito de coleccionador que faz falta em matéria de relações pessoais nas nossas vidas. Todos coleccionamos experiências em que cada momento é único. Todos coleccionamos experiências cujos envolvidos são únicos. Tudo é único e derivado de um conjunto de circunstâncias adequado: quem, como, onde e quando. E cada conjunto destes é um “objecto” da colecção. E cada conjunto destes é ÚNICO. Como coleccionador que sou de experiências, guardo cada conjunto destes como único, raro, de valor inestimável, incalculável. Cada pessoa com que me deparo é exemplar único e devo, por isso, dedicar-lhe atenção especial. O objecto mais raro da nossa colecção é sempre o mais bem tratado, com todos os mimos, de maneira a apresentar-se sempre no seu melhor estado. Assim devíamos tratar também quem nos rodeia. Outro aspecto é que se temos um objecto raro não o vamos nunca querer modificar. Pretende-se sempre manter ou restaurar o estado original, sem perturbação da sua essência, do seu valor original, do seu potencial. Então por que não fazemos o mesmo com quem nos rodeia? Se são exemplares únicos por que queremos estar sempre a mudá-los? Por que queremos alterar-lhes o valor de acordo com a nossa opinião ou visão? Esta falta de harmonia chama-se “tunning” ou arte de “kitar” pessoas. Kitar é modificar, alterar, transformar, personalizar algo. É uma forma de recriação. E só se recria quando não se está satisfeito com o produto original, quando se pensa que é possível deixar algo mais ao nosso gosto, com um aspecto mais personalizado. Ao formato exterior deste tunning chamamos-lhe operações plásticas. Plásticas porque são artificiais, não reflectem a naturalidade dos ciclos da vida (refiro-me obviamente aos casos não clínicos). Por outro lado, como que a compensar, surgiu recentemente um outro sub-aspecto desta tendência da personalização. São os serviços, agora muito em voga, usando o prefixo “my” (meu), sobretudo em serviços online, na Internet. Dão um aspecto de exclusivo, dedicado e personalizado, tratando-nos como seres únicos aceitando os nossos diferentes gostos e/ou o nosso contributo individual como os blogs, fotos, toques telemóvel, vídeos, etc. Aqui já somos convidados a sair do estereotipado. Que coisas interessantes que a vida proporciona. Sempre que surge algo entra em cena também o seu oposto para permitir uma dupla experiência, ou quem sabe, obrigar a uma escolha permanente de caminhos a seguir. Paz é a confiança absoluta que se escolhe sempre o caminho adequado ao nosso estado de consciência.

A continuar…

M.A.S.

domingo, 16 de março de 2008

Estado de Paz - 45

Obrigado por seres quem és. Quando foi a última vez que passaste pelo espelho da tua consciência? Se não te conhecesse em essência diria que estás irreconhecível. Se não soubesse que isso faz parte do processo de mudança pelo qual estamos a passar não te acharia beleza nenhuma. É um pouco como ir ao cabeleireiro. Vamos com um aspecto menos cuidado, a necessitar de um arranjo. O procedimento do corte de cabelo deixa-nos num estado intermédio em que não estamos como entrámos mas também ainda não estamos “apresentáveis”. Assim é este momento. Já não estamos como entrámos nele mas também ainda não temos a “aparência” final. A que propósito vem esta conversa toda? Dizem que Deus escreve direito por linhas tortas. Dizem que aceitam a vontade de Deus. Mas afinal que caneta usa? Que papel? Que instrumentos de escrita e de materialização? Se precisamos de mudanças no sistema de saúde, todos contestam as mudanças. Se precisamos de mudanças no sistema da justiça, todos contestam as mudanças. Se precisamos de mudanças no sistema de ensino, todos contestam. Afinal Deus tem que escrever direitinho como nós Lhe dizemos senão… não aceitamos como sua a escrita que nos aparece diariamente. Mas há aqui algo que parece não bater certo. Existe uma coerência e uma incoerência. A coerência, incontestável, e unânime é de que as coisas têm que mudar porque não estamos a ser convenientemente servidos pelos serviços que deveriam existir e funcionar em nosso benefício. A incoerência é que não aceitamos a mudança que nos é apresentada. Então, onde está o ponto do equilíbrio? Como avaliar se estamos a dar um passo em frente, atrás ou ao lado? E aqui reside a dificuldade. Habituamo-nos a dar passos bidimensionais. Mas também há passos para cima. O passo para cima é quando deixamos de julgar os outros. Se o ministro ou ministra, presidente, patrão, marido ou mulher, fez algo que nos parece desequilibrado apenas temos que fazer uma pequena oração ou dirigir-lhe um pensamento (em jeito de afirmação): “Todas as tuas acções reflectem harmonia.” Bem sei que te riste do que acabei de dizer como se de um absurdo se tratasse. Mas já experimentaste fazê-lo? Já comprovaste se é eficaz? Como nos podemos rir do que provou o amor e nos dá a provar o mesmo? É por isso que estás irreconhecível. Provavelmente apenas despenteado(a). Logo que estejas perante o espelho verás onde ainda faltam aparar o cabelo. Cortarás o que está a mais e já não te faz falta para que possa crescer o novo com mais vigor e de acordo com os tempos que correm. E da mesma forma natural com que deixas para trás o cabelo cortado que caiu ao chão e que nenhuma falta te faz mas que tão bem te ficou até este momento, farás com tudo na tua vida. Há um(a) cabeleireiro(a) divino(a) (eu diria mesmo um salão completo) que te prepara para te apresentares ao mundo renovado(a). Ah, possivelmente já percebeste que também este “cabelo” cresce de dentro para fora. Quem sabe se não serás mais uma linha torta a desempenhar na perfeição o seu papel? Se tiveres dúvidas, dirige-te apenas uma pequena oração ou pensamento (vindos do coração): “Todas as minhas acções reflectem harmonia.” As tuas células agradecem e vibrarão nesta alegria. Não precisas de me vir contar o que aconteceu na tua vida depois de experimentares. O amor não precisa de provas nem de provar nada, basta-se a si próprio. E é este o serviço que procuras que os outros façam por ti e para ti mas que ainda não aprendeste a fazer pelos outros e para os outros. Paz é o silêncio da reflexão (no sentido de ponderação e no sentido da imagem que encontrámos ao espelho).

A continuar…

M.A.S.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Estado de Paz - 44

Obrigado por seres quem és. Como sabes dirijo-me sempre à parte mais sublime de ti. Aquela que não se ofende. Aquela que está mais além da religião, da política, dos costumes, dos hábitos enraizados, das práticas centenárias ou milenares. Dirijo-me a uma parte de ti que teimas em esconder mas que anseias para que se liberte. E para que haja libertação tem que se revelar a verdade. Somente perante a consciência da verdade nos libertamos. Há muito que foi dada a “receita”. Mas, no fundo de nós mesmos, tememos que a verdade magoe. Tememos sermos confrontados com os nossos fantasmas, com os nossos passados, com o nosso subconsciente. Se tememos é porque temos medo de algo ou vergonha. Ou então tememos transportar algo que nos faço sentir culpados de algo do qual não nos consigamos libertar. E assim passamos a praticas religiosas de assunção de culpas para nos afundarmos ainda mais e dificultar a libertação e manifestação da grandiosidade da vida em cada um de nós. Eu sei que é mais fácil rezar pela paz no mundo que assumir e praticá-la, mesmo depois isto mesmo ser dito e redito por aqueles a quem rezam. É muito mais fácil e conveniente colocar as máscaras à saída de casa e voltar a tirá-las quando se chega ao fim do dia. Ser-se autêntico caiu em desuso. O mundo é dos que se safam e só se safa quem for competitivo. Nem imaginam a quantidade de pessoas que interiorizou esta “verdade” que nos venderam. Mas os mesmos que professam esta verdade depois queixam-se que se perdeu o respeito, a ética, a visão do conjunto em vez do cada-um-por-si. Mas como sair disto? Todas as semanas se contradizem. Todas as semanas há futebol, há política. Em que estádio uma equipa respeita a outra independentemente do resultado? Em que se respeita os árbitros independentemente das decisões? Se respeita o público independentemente de por quem torce? E na política? Que partido respeita as decisões do governo livremente votado para decidir? Votamos num partido para avançar e noutro para travar? Então como andamos para a frente? Por que quer transformar tudo em vitórias ou derrotas políticas? Onde está a visão do conjunto? Isto é cada indivíduo por si, cada equipa por si e cada partido por si próprios. E depois passa-se o resto da semana a comentar no café ou no trabalho estas situações. Assim a desarmonia toma conta da nossa vida, do nosso tempo. Por que achas que és tão insignificante que precisas de um jogador de futebol como ídolo? Por que achas que tua vida é tão insignificante para que precises de uma equipa de futebol para lhe dar sentido? Ou um partido político? Ou uma religião? Quanto estás disposto a mudar a tua vida para descobrires a sua magnificência, a tua magnificência? Temos que ser aquilo que queremos. É um sinal que fazemos ao cosmos e assim se materializar na nossa vida. Se queremos respeito temos que ser esse respeito. Começar em casa com aqueles que vemos todos os dias e com quem mais lidamos. Passar ao trabalho, ao nosso chefe, aos nossos empregados. Queremos paciência então somos pacientes. Aprendemos a respeitar uma fila no trânsito, uma diabrura de uma criança, etc. Queremos abundância então somos abundantes. Partilhamos quem somos e o que temos com os outros, mentalizando que seja de uma forma harmoniosa para todos. Desta forma, com entrega e sem nada exigir; fugimos ao controlo que metemos sobre as nossas vidas e que nos impede a realização pessoal. Fomos ensinados a controlar tudo e que se assim não for podem acontecer-nos coisas. Medo = matriz de controlo. Quando queremos controlar uma criança o que fazemos?
Paz é a capacidade de sermos já, aquilo em que gostávamos de nos tornar.

A continuar…

M.A.S.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Estado de Paz - 43

Obrigado por seres quem és. Hoje quero partilhar contigo uma forma praticamente gratuita de ser feliz 90% dos dias e 90% de cada dia. Não se trata de algo que esteja em saldo, nem tão pouco desconta para cartões, nem nos temos de preocupar de estar a pagar o preço mínimo e raramente é necessária publicidade na caixa do correio. É uma energia limpa, ecológica e inesgotável. É praticamente gratuita, e digo praticamente porque nos precisamos de deslocar de um lado para o outro para funcionar em pleno. Dizem-me, por vezes, que não entendem como praticar algumas das coisas de que falo ou que é só teoria. Mas se não praticarmos como vamos descobrir se é verdade ou não? Estas coisas exigem acção e determinação em vez de resignação e comodismo. Vamos lá ao exercício diário digno de uma sociedade de consumo. Pela manhã e ao espelho desejamo-nos, gratuitamente, um bom dia cheio de realizações construtivas e harmoniosas. Cumprimentamos os nossos familiares com um “Bom dia! Já te disse hoje que te amo?” e estendemos-lhes um abraço complementado com um beijo ou dois, se nos sentirmos generosos. Sem grandes preocupações mas cuidando minimamente do nosso aspecto exterior que reflecte de algum modo o nosso aspecto interior, saímos à rua. Não esquecer de levar aquele sorriso que tem ficado guardado no guarda-jóias dentro do cofre todo este tempo. Partilhe-o, mostre-o, dê-o, afinal sai-lhe de graça, e há até quem retribua! Quem diria haver retribuição de algo que demos de graça?!? Continuando… Nesta fase e já surpreendidos e inebriados por uma inesperada alegria que nos acompanha, chegamos ao nosso trabalho. Não desesperes, nem só nas férias temos que nos sentir alegres. Com um bocado de sorte o nosso trabalho entrou neste exercício, e lá nos trazem um problema ou outro para resolver, muitas vezes sem pagarmos para o ter, logo um problema gratuito. Desejamos um bom dia a quem nos trouxe o problema e um bom dia ao próprio problema. E assim acabámos de baralhar isto tudo. A pessoa que nos trouxe o problema não está habituado a este tratamento nem o próprio problema o está. Se deixámos de receber o problema como um problema passa a ser outra coisa… é uma situação. Passou a ser algo mais leve. O problema habituou-se a ver-nos sisudos. Se respondemos com leveza e serenidade, o problema devolve a sua outra face… a solução. Com a nossa mudança de postura o problema acompanha-a. Estamos agora noutra onda, noutro estado de consciência. Por muito difícil que seja a situação temos uma porta aberta para percepcionar a solução, ou uma solução. No final, devemos agradecer à situação e a quem a provocou e/ou trouxe a mesma ao nosso conhecimento a oportunidade riquíssima de nos transformamos em parte da solução. Se a experiência foi desgastante e para que não falte alento, convida-te a ti próprio para almoçares fora e comemorar o facto de estares vivo para a viveres. A refeição não será gratuita (provavelmente) mas a alegria que nos traz não tem preço, nem o respeito que agora manifestamos por nós próprios e pelo nosso corpo. Aproveita e trata com distinção profunda alegria quem te confeccionou a refeição e quem a serviu. A gorjeta não é uma esmola. Faz parte do processo de nos soltarmos, irmos além das obrigações, dentro do espírito da abundância. E esse “excedente”, por mais insignificante que pareça face ao total da conta a pagar, é muitas vezes a maior alegria de quem nos serviu. Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem. Nada nos trará maior paz e serenidade.

A continuar…

M.A.S.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Estado de Paz - 42




Obrigado por seres quem és. Depois de percorreres os textos que contigo tenho partilhado, já descobriste em ti o que amar? A simplicidade não atrai ninguém, pois não? Não chama as atenções sobre si, passa despercebida. E ninguém quer isso, pois não? Todos querem ser o centro das atenções, de si próprios, dos familiares, dos vizinhos, dos colegas, dos patrões, há que dar nas vistas, destacar-se. É preciso ter carácter, personalidade forte, para poder evidenciar-se, para se ser alguém. E ter espírito rebelde para se ser respeitado e admirado. Para ajudar a compor o ramalhete procure-se roupas exclusivas, carros exclusivos, casas exclusivas, peças únicas, tudo ferramentas de afirmação, de demonstração do status quo. É sempre bom mostrar-se o que se conseguiu atingir, materializar o grau de sucesso. A única coisa que me desagrada nisto tudo e é apenas uma, é a unidade. Mede-se em TER, em unidades monetárias, ou unidades de posse. Não deixa de ser irónico observar que, até nestes casos de sucesso e em todas as etapas do percurso as pessoas exclamem para si mesmas: “Quem eu era e quem sou hoje!” ou “Não era ninguém e vejam onde cheguei!”. Que infelicidade confundir TER com SER. Que infelicidade a necessidade de se provar aos outros e fazer prova da sua supremacia ou inferioridade dos demais, seja em casa, no trabalho, no desporto, na política. Depois de tanto estudar e de tantas vezes o negar, acabo por dar razão a Darwin. Não que concorde que viemos todos dos macacos, nem tão pouco na sobrevivência dos mais fortes, mas sim na selecção natural dos mais aptos. E na medida que concordo com ele também discordo. Pois existe um pressuposto errado, fruto do estado de consciência na altura. A selecção é natural mas não baseada em competição, nem em subjugação, nem em superioridades ou exclusões, a unidade estava errada. Não se trata de mais fortes a prevalecer sobre mais fracos. Dou um exemplo. Uma semente de laranjeira. A semente é já a laranjeira em potencial. Tem que ser semeada e tratada e crescerá. Ao transformar-se em árvore, a semente não perde a identidade, apenas se transforma, muda de forma. Não tem que se evidenciar, nem lutar por um bocado de sol. Estende apenas os seus ramos e capta o que necessita para si, havendo em abundância para todas as outras árvores. Não precisa de tirar a riqueza dos outros para mostrar que tem mais. Pelo contrário, gera as suas riquezas que liberta nos seus ramos, numa oferta de amor puro. Por isso dão sumo as laranjas e por isso sabe tão bem. O sumo sabe a amor incondicional. E quantas mais riquezas libertar mais espaço terá no ano seguinte para gerar novos frutos. Porque o amor frutifica e gera novas sementes. A selecção natural não se baseia em “um acima do outro”, ou “um sobre o outro”, mas sim em “um com o outro”. O sucesso “mede-se” em unidades de amor, de felicidade, de alegria, de paz. Quem vive neste estado de graça, vive em unidade. Por isso, nada mais há a medir. Não se tem amor, é-se amor. É-se a unidade. Tudo o resto é efémero mas faz parte amorosa do contexto que nos leva ao encontro de nós mesmos. TER, não é vergonha alguma, nem deve ser factor de culpa. Segurar o que se tem, no entanto, pode ser a causa do que aprisiona a manifestação da felicidade na nossa vida. Paz é soltar, é soltar-se, libertar, libertar-se. É TER sem se ser dono de. Tudo, assim, incluindo a própria vida que se pensa que se tem, é uma imensa partilha. Somos um sorriso divino em forma de gente

A continuar…

M.A.S.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Estado de Paz - 41




Obrigado por seres quem és. Hoje vou falar sobre ti. Sobre aquilo em que acreditas. E também sobre aquilo em que não acreditas. Toda a vida, e quase toda a nossa existência enquanto seres divinos (esquecidos da sua origem) nos disseram em que acreditar e nos moldaram as nossas crenças com distracções. As distracções, sejam quais forem, figuras, estátuas, símbolos, vestes, palavras, etc, servem apenas um propósito que é desviarem a nossa atenção do interior para o exterior. E mesmo aquelas que nos orientavam para o interior eram manipuladas para nos poderem controlar até onde podíamos ir. Já darei exemplos. Assim, ao longo dos tempos, vamos perdendo a nossa inocência de criança, a nossa fantasia da vida, a nossa magia de viver, a nossa alegria genuína, e passamos a ser robots, seres adormecidos no embalo do que nos disseram ser errado acreditar (embora sendo verdadeiro para nós). E está tão bem montado este sistema que ambos os lados o alimentam, por um lado temos a questão espiritual “orientada” pelas religiões e por outro a questão material “orientada” pela ciência. Em todas as alturas, ou uma ou outra, nos dizem em que acreditar como verdade fazendo desacreditar a outra, tendo dificuldade em co-existir. E nós, em que ficamos? A qual daremos razão? E se a nossa razão for diferente das duas? O que é a verdade? Quem fala verdade? Quantas verdades existem? Qual devemos viver? Qual devemos ignorar? E se nenhuma me servir? Se nenhuma responder ao que me diz o coração? Se nenhuma me preencher e sem pedir nada de volta, me fizer sentir bem, feliz, livre? Tenho que viver limitado na minha aspiração? Tenho que me conformar com algo que só me deixa viver a 10%? Por quanto tempo serei capaz de viver amarrado, sabendo da nossa pureza mas que nos dizem sermos pecadores, sabendo da nossa origem divina mas que dizem virmos dos macacos? Não admira que nos perdamos a meio do caminho. Mas não significa que não nos encontremos um pouco mais à frente. Dou um exemplo que, embora pareça despropositado se torna interessante: o Pai Natal. Há quem diga, e mais cedo ou mais tarde o dizemos às criancinhas, que o Pai Natal não existe. Mas se eu perguntar a cada um de vocês como é o Pai Natal, me vão responder: “Barrigudo, com barbas brancas, vestido de vermelho, tem renas e faz Oh!oh!oh!”. Então, se não existe, como o podem descrever? Agora dirão que não existe de verdade, só no imaginário de cada um. Certo? Então e Deus? E a vida eterna? E a salvação? E a remoção do pecado? E um lugar no céu? Por que nos continuam a fazer crer que qualquer lugar é melhor que este onde estamos? Quer seja religião quer seja ciência? Resumindo e acreditar no que acabei de dizer e partindo do princípio que existe um Ser, uma consciência criadora e que mantém o universo a funcionar, este Ser ou é muito burro ou sendo perfeito, cometeu um erro perfeito. Fez-nos mais perfeitos do que ele. Porquê? Porque o lugar que nos deu para viver afinal não corresponde às nossas exigências, e que o céu ou outro lugar qualquer é bem melhor do que este, e quanto mais depressa sairmos daqui para melhor vamos (“ir desta para melhor!”). Algo não bate certo aqui. Há uma inconsistência, uma incoerência. Algo está distorcido. E a resposta esteve e está sempre tão perto. Mas não interessa perseguirmos o problema ou perder tempo a arranjar culpados. Interessa a solução. Mas quase sempre nos distraíram para não a vermos ou ouvirmos. Aquela vozinha no interior que nos orienta. Feliz Ano Novo! Feliz Vida Nova! Paz é encontrarmo-nos dentro de nós e irradiarmos esta feliz redescoberta, uma imensa alegria de viver.

A continuar…

M.A.S.