quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Estado de Paz - 21


Obrigado pelo teu contributo para que esta época Natalícia mantenha o espírito de paz, partilha, reunião, compaixão e generosidade que a caracterizam. Que este espírito se mantenha e nos acompanhe o resto do ano. Hoje gostaria de falar dos presentes. Sim, os presentes. De todo o tipo. Daqueles com papel colorido e laçarotes, daqueles que têm 2 pernas e daqueles que ficam entre o passado e o futuro. A ausência de qualquer um destes tipos de presente empobrece a experiência da vida. Começando pelo aspecto temporal, creio que final do ano é feito um balanço pessoal e profissional de como correram os 365 dias anteriores. Os sucessos, os não sucessos, as alegrias e as tristezas, os ganhos e as perdas, mas o balanço serve sempre para ver o que ficou. Eu aqui concentrar-me-ia no que ficou, não no bolso, mas no coração, o que ficou de ti. Aproveitaste para reatar relações? Para participar na união das partes desavindas? Aproveitaste para dar mais um pouco de ti aos outros? Aproveitaste para estar um pouco mais centrado(a) em ti, e fazer algo que realmente gostas? Ou perdeste-te na azáfama do dia-a-dia sem tempo para nada senão para cumprir as tarefas rotineiras quotidianas? Pegando nisto, transporto para o outro tipo de presentes, aqueles que não estão ausentes. Como foi a tua vida neste ano? Estiveste presente e activo? Ou foste mero espectador sem vontade de mudar nada, de melhorar coisa nenhuma, e limitaste-te a comentar o que te rodeava, o trabalho, futebol, política? Onde está o teu contributo? Que herança preparaste para as gerações vindouras? Que dirão elas quando forem da tua idade? Pego também nisto e parto para o outro tipo de presentes, os que têm papel de embrulho e fazem as delícias de todos porque mexem com o imaginário e expectativas de cada um e farei um resumo do que quis dizer com tudo isto. Uma coisa que eu acho interessante nas prendas é que perante algo desconhecido e não tendo ideia do que possa ser e do que nos possa esperar ao desembrulhá-la, está enraizado no nosso subconsciente que é algo bom. Devia ser Natal todo o ano para podermos manter este espírito nos outros presentes. Se perante os eventos desconhecidos que nos acontecem no presente (dia-a-dia) mantivéssemos o coração aberto e estivermos presentes no que nos acontece e a certeza (fé) que é algo que nos quer bem, ao “desembrulhar” o presente (o nosso dia-a-dia, 24 horas) criaríamos o espaço e as condições para esse presente (dia-a-dia) ser um verdadeiro presente (prenda). Embora pareça apenas uma brincadeira de palavras, todas elas têm um sentido intencional e relacional e causal. Ou seja, complementam-se para criar uma realidade. Se queremos mudar a nossa vida, temos que estar presentes na mesma e não nos mantermos como simples espectadores e comentadores, mas sim como intervenientes, criadores num espírito de amor e união da nossa própria realidade. Como poderemos saber se é mesmo assim que funciona ou não? Aqui entra a fé (é como o ar, independente da religião). Como é que sabemos que o presente que estamos a abrir não é uma cobra venenosa? Porque criámos as condições e nos rodeamos de pessoas que amamos e que nos amam e o espírito que nos une é de amor e partilha. Esse espírito é depois espelhado pelo que recebemos. O que damos espelha o que recebemos. O que semeamos espelha o que colhemos. E como saberemos que aquelas sementes que vamos deixando germinarão? Porque temos fé que assim seja. A certeza absoluta que fizemos algo com amor e por isso é infalível.

Paz é sermos o presente integrado da vida. Estarmos presentes nela, viver intensamente o presente, e vê-la como um presente (dádiva) recebido e por nós com amor oferecido.


A continuar…

M.A.S.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Estado de Paz - 20




Obrigado pela paz radiante e intensa que emanas e nos contagia. És a verdadeira razão da minha existência. Existir sozinho ou existir apenas entre iguais parece-me igualmente monótono e sem graça. Penso que seria um desperdício divino não podermos partilhar conjuntamente este local maravilhoso e percepcioná-lo como um paraíso. Mas para que isso aconteça temos que respeitar e aceitar as nossas diferenças e fazer com que as nossas semelhanças na essência do amor que somos nos catapultem para um estado de consciência e uma forma de ser na vida, pacífica, harmoniosa, íntegra e integral. No amor tudo é integrável. Há quem diga até que há diversas formas de amor. Será assim? Cada um saberá de si, mas para mim amor há só um, Uno, indivisível. Porém, cada um o olha de diversas formas, amor de mãe, amor Divino, fraterno, de amigo, de marido, etc. Mas ao criar estas diferenças, gera-se uma divergência, um afastamento da essência do amor. O amor, o único e genuíno amor, não quer saber de laços. Na verdade, eu diria até que o Amor é burro, ignorante. Não quer saber de nada. Como assim? Por acaso não correm rios em terras de terroristas? Não brilha o sol em países de assassinos? Não empresta a árvore a sua sombra a pedófilos? Não brota a flor no jardim de uma prisão? Não ilumina o farol o navio dos piratas? Não roda a Terra quer esteja cheia de quem diariamente a polui quer esteja cheia de quem diariamente por si zela? Isto é amor. Transcende divisões, exclusões, julgamentos. É absolutamente coerente unicamente consigo próprio e não se rege por nenhuma lei. No entanto, e sem culpa nenhuma, que não a da sua simplicidade desconcertante, o Amor está na origem de todas as leis. Sejam elas religiosas, jurídicas, científicas, do pensamento (lógica). Não deixa de ser interessante também que, num movimento de auto-reconhecimento, quando alguém está apaixonado, o seu comportamento anómalo revela traços de uma burridade omnipresente e de uma constante falta de lógica. Somos levados, depois, a domesticar este sentimento de modo a enquadrá-lo no conjunto das leis pelas quais nos regemos, mas isso é como tentar encadear o sol com uma lanterna. Só acredita que é capaz quem quer.
Seremos, então, capazes de viver ou não sem leis? Há quem pense que se não houvessem leis seria o caos. Isso é verdade, pelo menos parcialmente. Se o Amor está na génese das leis, o caos não vem da ausência das leis, mas sim da ausência de Amor. Como a nossa essência é Amor, o único local de manifestação possível para o caos é na nossa falta de aceitação e reconhecimento do Amor que somos. Este local é o que chamamos dia-a-dia. Mas ultimamente e de uma forma colectiva, consciente ou não, estamos a ser chamados a reflectir nisto, quer pelas religiões (pelos bons motivos ou pelos menos bons), quer pela desgovernação política do nosso mundo, quer pela nossa própria intuição que nos faz sentir que algo necessita de mudança urgente, dentro e fora de nós. Por enquanto, essa mudança, e pela nossa herança comportamental, é feita com rompimento, corte radical. São os divórcios, os homicídios, os suicídios, os desempregamentos colectivos, as catástrofes naturais, etc. Eu diria que para estes, no comboio das mudanças, a carruagem da mudança exterior vem primeiro que a carruagem da mudança interior. E que há pessoas cujas mudanças são a vapor e outras são do tipo TGV. Outros seres há, cujos corações são tão leves e flutuantes que não necessitam de comboio. Eles são os próprios carris, co-responsáveis pelo sentido da mudança em cada um de nós. Paz é capacidade de sabermos mudar sem termos que mudar os outros. É sabermos sanar as nossas feridas com o curativo do perdão, da gratidão, e do legado às gerações vindouras. E se alguma política é necessária que seja a da mão-dada ao invés da mão estendida.

A continuar…

M.A.S.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Estado de Paz - 19



Obrigado pela tua beleza. És um ser incomparavelmente belo. És um ser incomparavelmente único e amoroso. Normalmente somos treinados para, e se for caso disso, reconhecer mais facilmente a beleza dos outros. Temos dificuldades, de várias naturezas, para reconhecer a nossa própria beleza. Há quem diga que temos que ser positivos, ver a vida de uma forma positiva, nos devemos valorizar e/ou valorizar os outros. Isto, de um determinado ponto de vista até que não soa mal, mas deve ser visto apenas como indicativo de uma direcção e não o destino em si. Porquê? Se eu quiser um caminho mais directo da zona de Leiria até ao Algarve e se pedir indicações nesse sentido, ninguém me indicará uma passagem pelo Porto, mas Lisboa será um ponto de passagem. Neste caso, o Porto será uma direcção que não nos interessa seguir para chegarmos ao nosso destino; Lisboa será um ponto de passagem e Algarve mantém-se como o destino. Na direcção do viver em pleno passa-se algo semelhante. Ver a vida de forma positiva será o equivalente à indicação Lisboa, um ponto de passagem mas não o destino. Ver a vida de forma positiva, valorizar-nos e aos outros, poderá ser como trocar de óculos ou lentes de contacto e criar apenas outra ilusão para esconder a ilusão original. Valorizar alguém é atribuir-lhe valor; para atribuir valor tem que haver um julgamento por comparação, um referencial. Ora, se somos todos seres únicos, incomparavelmente únicos, qual é o referencial? Não há? Claro que há. Valorizar alguém é sobrepormo-nos ao lugar de Deus (independentemente da religião ou não religião de cada um), da consciência criativa Divina, como se alguém só valesse alguma coisa depois de ser valorizado por nós. A perfeição de cada um, mesmo antes de darmos conta dela, já lá estava, está e estará. Apenas temos que Reconhecer essa perfeição. Não valorizamos coisa alguma. Ou reconhecemos o valor/potencial ou não. Ao Reconhecer não interferimos na origem do valor/potencial, apenas entramos em sintonia com ele ou não.
Ver a vida de forma positiva? Isto em termos absolutos não existe. Se reconhecermos a perfeição do processo da vida, do binómio complexidade/simplicidade, intenção/inocência e entrarmos em sintonia com esse processo, com essa forma rejubilantemente criativa, é impossível não viver em estado de alegria. Se forçarmos a nossa visão, seja em que sentido for, então apenas estamos a trocar de filtro e não a transcendê-lo e a passar para a fase seguinte.
Qual é então o referencial que atrás referi? Aquele que se mede pelos outros nunca se encontrará a si mesmo. No entanto, é graças à presença dos demais que nos damos conta das nossas fraquezas e capacidades. O referencial é sempre a manifestação amorosa, da nossa essência, na relação connosco e com os outros. Nunca nos vamos manifestar e realizar em pleno isolando-nos, nem nunca nos vamos manifestar e realizar em pleno procurando o referencial, o ídolo, a imagem, num qualquer outro sítio que não seja o nosso coração, sejam eles estrelas da música, cinema, política, gurus ou Messias. Porém, não os excluamos. Por tudo o que nos fizeram sentir e em nós despertaram fazem também parte do nosso processo de redescoberta e tomada de consciência. Um dedo não é o corpo, uma mão não é o corpo, 2 braços e 2 penas não são o corpo. Mas a interacção de todas as partes e a harmonia entre elas, farão com que nos apercebamos da perfeição do corpo, e reconheçamos o valor da função perfeita e adequada de cada uma das partes.
Paz é a libertação da necessidade de valorizar a perfeição passando-se a reconhecer aceitando-nos como parte dela, e realizando-a em cada uma das nossas acções, palavras e pensamentos.

A continuar…

M.A.S.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Estado de Paz - 18

Obrigado por trazeres a vida a singularidade da tua presença. Dedico o tema deste artigo ao meu pai. “Viver para quê?”. “Qual o sentido da vida?”. As ainda eternas questões existenciais. Penso que tudo começou com Adão. O primeiro homem na Terra. Quando começaram os testes de vida no planeta, Adão veio inteirar-se se as condições eram já adequadas, Deus perguntou-lhe: “Adão, que estás aqui a fazer?”. Adão respondeu-lhe com no seu dialecto de primeiro homem: “Vim ver”. Estas poucas palavras, talvez devido ao seu diminuto e pouco desenvolvido dialecto, perpetuaram-se como “Vi(m)ver”, “ViVer”, “viver”. E assim começou a vida humana. Passado uns tempos, e já noutra fase existencial, talvez por enfado ou outra razão qualquer igualmente válida, alguém se questionou acerca da razão de existir, do sentido da vida. A este questionar da vida, chamou-se “Dú-vida”, “dúvida”. A perfeição está que na “dúvida” está a resposta a si própria. Por outro lado, e aproveitando a complexidade da linguística, “Du” pode ser entendido como pronome pessoal, “tu”. Então, questionar a vida é questionar-se. Porquê? Ora, dúvida, dú-vida, tu-vida. Se tu és a própria vida, és a resposta a ti mesmo(a), questionar a vida, é questionares-te a ti próprio(a), à tua existência. Por outro lado ainda, podemos dizer que viver é existir. Existir implica uma direcção e um sentido. O prefixo “ex” significa vindo de dentro, de dentro para fora. Então viver, existir, é manifestar fora quem se é dentro, ou se quisermos aprofundar, é ser transparente, e assim não preciso ser-se duas vezes, dentro e fora. Questionar a existência faz sentido quando fica turva a visão do “dentro” e quando se reflecte o “fora”, este parece que não se enquadra, não se alinha com algo que muitas vezes não sabemos explicar o que é. Mas ao adoptar esta linguagem do “dentro”, “fora”, do “ex” e “in”, corre-se o risco de permanecer na dualidade. Chamo-lhe risco, porque a resposta, ou melhor a necessidade da resposta só existe onde há dualidade. Na unidade não há mais dúvidas. Assim, para mim, questionar-se acerca do sentido da vida, é um simbolismo de procura da saída à pergunta. Se a pergunta faz na sentido apenas na dualidade, sair da pergunta é sair da dualidade. Sair da pergunta não é satisfazê-la com a resposta, por isso não lhe chamei responder mas sim “sair da pergunta”. Por exemplo, podemos questionar por que respiramos. Encontremos ou não uma resposta continuamos a realizar e a concretizar o propósito da respiração. Ou seja, ninguém fica sem respirar enquanto a resposta vem ou não. O processo é perfeito. Uma coisa é encontrar a resposta, outra é concretizá-la. Mas ao concretizá-la estamos já num outro estágio onde não faz sentido colocar a pergunta. Sendo concreto, se estamos em sintonia com algo, faz sentido perguntar por que não estamos em sintonia? É chegada a hora da sintonia. Basta para isso desligar os canais que nos distraem, todos os que deixámos que se nos impusessem, e outros que nos impusemos. São eles a tristeza, a mágoa, a infelicidade, etc. No fundo, não são outros canais. São apenas as interferências que nos turvam a visão do canal único, da unidade. Nós somos o canal e as partes unidas. Paz é capacidade de o reconhecer. A dúvida, a interrogação é um pedido entre duas entidades, “inter” – entre, “rogatio” – pedido. A dádiva transcende a necessidade do pedido. Dar-se é unir-se. Na união transcende-se a dualidade e a necessidade da dúvida. Paz é a união suprema de cada um consigo próprio.

M.A.S.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Estado de Paz - 17

Obrigado por seres diferente de mim. Obrigado por todas as vezes que nos zangámos por não pensares como eu e como eu queria. Por todos os pontos de vista completamente diferentes do meu e pelas opiniões que não me pareciam fazer sentido nenhum. Percebo, hoje, que o mais importante não é pensarmos o mesmo, nem da mesma maneira, nem tão pouco o mais importante é pensar. O mais importante é arranjarmos o espaço para as nossas diferentes opiniões coexistirem, e dentro delas encontrar uma base para o entendimento que estenderemos aos demais. Fala-se de tempos de crise, de dificuldades, de pobreza, de tristeza, de infelicidade, de injustiças. Falar-se destes temas não tem mal nenhum, se no final soubermos usar a pontuação correcta. Quando se fala de infelicidade ou tristeza, não se termina com ponto final, mas sempre com uma vírgula, porque na natureza tudo tende naturalmente para o equilíbrio. Isto inclui o nosso estado de consciência. Todos os sentimentos/estados que consideramos “negativos” são estados de consciência. Todos os sentimentos/estados que consideramos “positivos” são estados de consciência. Como distingui-los então? Simples, pelo coração. A diferença não está nos acontecimentos que desencadeiam esses sentimentos, mas na nossa percepção desses acontecimentos; não é tão pouco o que pensamos, é algo mais profundo que servirá de base ao que pensamos, é o que sentimos. É uma percepção residual, mas forte o suficiente para nos afundar em mágoa ou, por outro lado, nos fazer rejubilar numa alegria de viver indescritível. Se até hoje aceitaste todas as notícias “negativas” na tua vida como fazendo parte dela, dá uma nova oportunidade a quem te traz algo de diferente em direcção à alegria de viver. Põe de lado o receio de acreditares que ainda há algo de bom na vida, e que depois isso pode dar origem a baixar as defesas a ficares mais vulnerável, e por fim estará uma desgraça qualquer à espreita e que aproveita esse momento de maior vulnerabilidade para entrar. Este espírito defensivo quase constante e permanente deve ser, quanto antes, substituído, como se de uma manutenção ao nosso equipamento dos sentimentos se tratasse. Temos um filtro, entupido, desafinado, desajustado, arcaico, inútil, medíocre, avariado, que insistimos em usar, porque outrora nos pareceu adequado, e nos está a dificultar o fluir das situações que chamamos de “positivas” em quantidade e qualidade. Esta quantidade e qualidade para uns será o que se designa como “esperança” e para outros será o que se designa como “dia-a-dia”. Ou seja, as coisas para nos chegarem têm que, primeiro, existir e, segundo, estarmos no alinhamento delas. Há uma componente colectiva e uma componente individual, uma componente de responsabilidade. Por isso, quando achamos que nada de bom nos acontece, ou que só acontece ao vizinho, algo não resultou no nosso processo. No caso de acontecer ao vizinho significa que a “coisa” existe, mas foi ele que se alinhou com ela. Não é caso para tristezas, nada está perdido (nem criado), apenas aguarda uma transformação. Paz é a capacidade de transformação de si próprio num ser alinhado. Alinhar o coração com o lado criativo do universo, que irradia todos os momentos que aguardamos desde sempre nos aconteçam. Todos eles estão prontos, aguardando por nós. Paz é o resultado de nos reencontrarmos com esses momentos.

M.A.S.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 16

Obrigado pelas perspectivas sobre a vida que despertas em mim. Parte da nossa vida social é passada em convívio com os amigos ou conhecidos. Há uma partilha de momentos, de experiências, de vivências, das coisas novas e das coisas velhas. Mas uma boa parte do conteúdo destas conversas diárias, desta partilha é sobre problemas e queixas. Isto serve para procurarmos suporte e apoio, e demasiadas vezes com sucesso, para descarregarmos as nossas frustrações e falta de carácter em cima de alguém que não está presente para apresentar a sua versão. E quando não sentimos esse apoio vamos contando o mesmo à próxima pessoa, e à próxima, até alguém nos entender ou concordar connosco. Cada um cria, assim, a sua rede de maledicência, alimentando o seu próprio ego à custa da denegrição de alguém. Não seria muito mais interessante as pessoas juntarem-se e nesse precioso tempo juntas, aproveitarem para criar/encontrar soluções para problemas comuns? É que existe um outro senão relacionado com isto. Esse tempo em convívio deve ser de paz de espírito e de porta aberta à criatividade para surgirem as soluções. Se o ocupamos com problemas e preocupações, queixas e lamentações, bloqueia-se o “arejamento” das ideias, e permanecemos na nossa perspectiva pré-programa das situações. É necessário dar espaço a outros ângulos, novas perspectivas, algo que nunca tínhamos considerado antes, nem experimentado, mas que estamos dispostos a aceitar como possível solução. Normalmente isto acontece associado ao “já-não-tenho-nada-a-perder” então experimento o tal plano B. Por vezes até funciona a tal solução, embora surja pela janela de oportunidade criada pelo desespero que fez baixar as defesas e abrir-se a uma nova perspectiva. Alguém disse um dia: “quando não souberes o que hás-de fazer, pergunta a uma criança”. O problema não é perguntar, é se estamos prontos para a resposta, que quase sempre não é de alimento ao nosso ego mas de desprendimento do mesmo. Desprender-se é despreocupar-se. Despreocupar-se não é sinal de menos amor ou interesse por algo ou alguém, pelo contrário, é disponibilizar mais recursos próprios e tempo para se ocupar desse amor de modo a vivê-lo mais intensamente.
Para mim o tempo é algo de precioso. Se alguém se oferecesse para me comprar um ano de vida, eu diria que não há dinheiro que o comprasse. Se cada minuto é assim tão valioso tem que ser empregue em algo igualmente valioso, que nos faça sentir bem, estar bem, nos deixa bem dispostos ou em algo que necessitamos. Então para quê se continuar a empregar esse tempo precioso em coisas ridículas, desnecessárias e acessórias, com tantas coisas por resolver nas nossas vidas? Na verdade é para nos esquecermos (ou não nos lembrarmos) precisamente dessas coisas. Mas adiamento e solução são dois conceitos diferentes. A solução implica decisão e acção. O adiamento não implica nada, apenas preguiça. Como é feio ser-se preguiçoso sozinho, procura-se companhia e já não parece tão mal. E procura-se concordância junto das outras pessoas para se ganhar força para a inacção. Uma criança nunca adia nada. Tudo é sempre o mais importante a fazer naquele momento do que outra coisa qualquer. Paz é a capacidade de não se adiar a si próprio justificando-se com o adiamento de si próprios de cada um dos outros. A beleza não é algo que se adie. Sê belo(a) e radiante tal como és, aceita-te assim e assume-te, confiante. Paz é a capacidade de se ser permanente mesmo na inconstância.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 15

Obrigado pelo aprendizado que nasce da nossa interacção. Hoje falarei de culpa, afinal, não há desculpa para não se falar de culpa. A culpa é um conceito que vive indissociável do erro e do julgamento. Mas não só. É um conceito útil que conjuntamente com o medo serve como ferramenta de manipulação e subserviência. Quanto mais culpado se sentir e se assumir o suposto infractor mais dificuldade terá em sair da amarra da necessidade de se libertar da culpa. A culpa surgiu com um serviço associado. É um serviço de utilidade pública, aberto, é o da salvação e da redenção. Este serviço é normalmente proposto e executado pelos criadores e mentores do conceito “culpa”, que ficam assim com o monopólio e controlo sobre todos os que se sentem culpados de algo e querem ver expiadas essas culpas. Como todos os bons comerciais sabem, o bom negócio é aquele que usa consumíveis, porque é necessário ir repondo esse bem, logo tem sempre saída. Como por exemplo os produtos alimentares. Também na culpa convém ter-se uma visão de um bem consumível (ou será mal consumível?) para dar continuidade ao processo e não se perder a clientela. Por isso convém levar a culpa para algo transcendente, algo de impalpável no domínio da fé, para que não seja fácil provar-se que, afinal, não há nada do qual se sentir culpado(a). E mesmo que haja algum motivo para isso, que a culpa seja tratada como uma ferramenta de solução e não de martírio e desgaste emocional.
Um dos meus paradoxos favoritos é o da salvação pelos céus à qual grande parte da população mundial apela. Metem a mão no peito, assumem culpas diversas, e olham para os céus em busca de salvação e redenção. O paradoxo está em que aqueles a que chamam Salvador (cada religião tem o seu), afinal não vem dos céus, mas é alguém que aparece ao lado, de carne e osso, passando pela mesma realidade física, local, tradições etc. Então se cada religião, ou regime de crenças, já viu que os seres que representam e que denominam de salvadores estiveram e estão entre nós, vivos e encarnados, para quê alimentar a culpa e colocar a salvação no inatingível? Cada um que responda por si. Eu sinto que a resposta vem de dentro e não de fora. E ao manifestar-se dentro se manifestará fora. E que se aquele(a) que me traz salvação é alguém que desde sempre veio do meio que me/nos rodeia, então eu faço parte dessa salvação também e interajo com ela. Assim, no meu silêncio, limpo as minhas culpas com perdão pessoal, de coração, sentido e intencionado. Revejo a minha ligação a todos os que estão à minha volta, a minha interacção com eles para que descubram no seu silêncio os seus medos e os perdoem de coração. Não há mais necessidade de voltar a sentir-se culpado(a), porque a fonte da culpa foi transformada em fonte de soluções. E pouco a pouco somos os “salvadores” de nós próprios como desde sempre foi ensinado e tantas vezes deturpado. A solução vem de nós, e da interacção com o meio que nos rodeia. O céu é um ponto de fuga. A fuga é a não aceitação de si. Cada vez que apela a salvação ao céu é sinal que não se aceita. Paz é a capacidade de apelar a si próprio em ligação a todo o resto, a solução dos problemas que carrega. Paz não é responsabilizar-se pela vida dos outros, mas sim pela sua própria e pelo seu contributo para a vida dos demais, com respeito pelas suas opções. Um bebé quando começa a caminhar e cai várias vezes, não o culpamos mas estendemos-lhe a mão para que se levante e tente novamente.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 14

Obrigado pelas mudanças que trazes a este planeta. Como disse alguém: a única coisa que não muda é que tudo está em mudança. Estamos a atravessar um período particularmente rico, espectacular e belo de mudanças, bem profundas diga-se. Tão profundas são que jamais o mundo ficará como antes o conhecíamos. Aqui é que começa a confusão. Qual a referência do mundo que cada um tem? Refiro-me ao antigo. Era um mundo belo? Era um mundo triste? Era um mundo difícil? Era um mundo abundante e realizador? E se vai mudar, o que podemos encontrar de futuro? Esta resposta já foi dada centos de vezes, apenas a relembro para a reactivar: “Assim como é dentro será fora”. O mundo antigo era um mundo de incertezas, agitações, convulsões, de contributos não harmoniosos globalmente, e assim o mundo se manifestou, com furacões nunca vistos. No conjunto de catástrofes naturais a que temos assistido, chamo a atenção para uma coincidência, as mais abrangentes e que correram mundo nas televisões são as que estão ligadas à água. Foi o tsunami, e o furacão Katrina. Neles centenas de milhares de pessoas morreram e outras tantas levaram ao mundo os mais diversos testemunhos. A natureza, apesar de parecer implacável, é perfeita na sua manifestação e existência, se a quisermos aceitar como tal. A água simboliza a purificação, uma regeneração. E assim, em toda a sua força e esplendor a natureza se fez manifesta dos desejos mais profundos de um mundo colectivo onde os indivíduos que o compõem anseiam por esta libertação, limpeza e regeneração do mundo antigo. Como não o souberam fazer de uma maneira individual ou colectiva mais suave e atempada, ela manifesta-se da outra forma possível e igualmente eficaz. Não se trata de um castigo, tal como não é um castigo ficar-se molhado quando se anda à chuva. É da natureza das coisas. Mas não é da nossa natureza sofrer, passar privações, ser infeliz. No fundo, aquilo a que chamamos realidade pouco importa, o que importa é a forma como a vemos e interpretamos, para com ela interagirmos. Aquilo que ainda ontem era tão importante para mim, hoje já não tem importância nenhuma. Ou, aquilo que ontem me fizeram e que foi tão marcante, se calhar hoje até nem tem importância, mas porque um dia me ofendeu vou guardar para poder cobrar de quem me magoou. Que visão tenho do meu futuro como pessoa? Serei capaz de aceitar uma forma de ver a vida diferente? Estarei disposto(a) a mudar-me ao ponto a perdoar de coração e libertar-me de mágoas antigas? Ou continuarei, como sempre fiz, a querer mudar quem me rodeia para ir de encontro à minha maneira de ver as coisas? Trabalho eu, no presente, em função da futura reforma a que me julgo no direito no futuro, ou para que este mesmo presente seja abundante, alegre, preenchedor e feliz? A preocupação com o futuro é desocupação do presente. Não é possível, em simultâneo, uma pessoa estar ocupada a 100% com uma função e preocupada com outra. Não posso semear abundância e prosperidade em corações empedernidos e gretados porque ambos escorrerão por essas gretas e mais uma vez nada ficará. E voltaremos ao: “Porquê eu? Porquê a mim?”. Paz é a própria abertura para a mudança. É a confiança no funcionamento da natureza perfeita em mim. O que há a limpar será limpo. O que há a mudar será mudado. Se desejo a mudança verdadeiramente, entrego-me a ela e vivo sereno(a). Como se pode colher milho? Semeando-o agora. Como se pode colher paz e prosperidade? Exactamente da mesma maneira. Vivendo-os agora.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 13

Obrigado pela tua amorosa e pacífica essência. Muitas vezes não percebemos quem na realidade somos. E por isso perdemo-nos nas direcções que tomamos, num género de deriva existencial e no final não chegamos a perceber nem o que somos nem o que nos tornámos. É caso para dizer que qualquer semelhança entre a realidade e ilusão é pura coincidência. No entanto, no meio de tanta coisa que não faz sentido para nós e que por razões várias vivenciamos no dia-a-dia, podemos pegar naquelas que nos fazem vibrar e que sentimos que mexem bem lá dentro para redefinir o rumo que damos às nossas vidas. Repetindo o que tantas vezes já foi dito por inúmeros amigos, não interessa o que fomos, não interessa o que somos, mas sim naquilo que nos queremos tornar. E pegando na imagem da pessoa que gostaríamos de ser, o nosso ideal, é trazê-la desse imaginário e desse futuro longínquo e vivê-la agora e aqui. Poderão dizer que se assim fosse toda a gente iria achar que estão loucos, ou que andavam metidos em “coisas esquisitas”, e que com isso iriam sentir-se desmotivados e acabavam por voltar à rotina do universalmente aceite. Mas, pelo menos para mim, a paz não é uma coisa esquisita, nem o amor, nem a amizade, nem o respeito, a partilha, a segurança, a dedicação, a integridade, a ética, a entrega, a serenidade, a simplicidade, a inocência, a felicidade. Também como já referi numa outra ocasião, estas propriedades intrínsecas de que somos compostos não devem ser vistas e tratadas como metas. Elas são as ferramentas, os meios, através das quais metemos logo em prática aquele ser que temos como ideal para nós. Se a felicidade fosse um objectivo da nossa vida, tudo o que fazemos para lá chegar seriam momentos de não-felicidade. É óbvio que isto não corresponde à verdade, portanto convém desde já eliminar esta “verdade” da nossas vidas. Assim, a felicidade não é algo a que se aspire, bem como todas as outras características atrás enumeradas. Não é um bem tangível ao qual se tem direito se trabalharmos arduamente, com esforço e sacrifício. É uma característica inerente ao que somos, faz parte de nós, do nosso ADN. Somos seres de felicidade e paz que por uma razão qualquer, e cada um terá as suas, se afastou dessa realidade, e por isso se sente incompleto e insatisfeito. E como a verdadeira razão da constante insatisfação na vida não é reconhecida na sua essência, entram em acção mecanismos de compensação dentro do mundo da ilusão. Procura-se compensar com bens materiais, com procura de status, em resumo compensa-se o mundo do Ser com o mundo do Ter. Esta compensação é do tipo “em vez de”. Na verdade o que deveríamos ter, pelo menos neste momento, era um “também”, um complemento e não uma exclusão. Numa vida harmoniosa há lugar até para uma vida cheia de sucessos materiais, uma vida de abundância em equilíbrio, abundância/riqueza interior, e também abundância/riqueza exterior. Para uma vida em Paz temos que estar em paz com o que somos e em paz com o que temos. Não há lugar à vergonha ou sentimentos de culpa, por ter, por não ter, por ser, ou por não ser. Cada um procurará em si quais são, então, as razões desse afastamento do ser pacífico e amoroso que é. Se eu sei que para estar em paz tenho que resolver uma relação desavinda com alguém que era suposto amar, se no meu ideal eu deveria estar a amar essa pessoa, então resolvo dentro de mim a desavença e pratico o amor que idealizo. Paz é a capacidade de sarar feridas e de perdoar as cicatrizes.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 12

Obrigado pela tua paz. Se não te sentes em paz, então encara este texto como dirigido a esse dia a que há tanto aspiras.
Há um pensamento que me causa estranheza, e me parece absurdo, e muitas vezes me parece que é só a mim que causa estranheza. Felizmente nunca passei sede, muita sede, ou pelo menos durante muito tempo, tempo demais em que não tivesse a certeza que em breve a saciaria. Mas se tivesse passado sede, muita sede, e demorasse muito tempo a saciá-la, estou certo que isso me marcaria para sempre. O que me causa estranheza é que se eu tivesse passado por essa situação, não seria por isso e para onde quer que fosse, seja ao trabalho, ao cinema, à praia, sair com os amigos, às compras, que eu levaria um garrafão de 5 litros de água atrás com medo que ela me voltasse a faltar. Seria absurdo fazê-lo. No entanto, quase toda a gente o faz. Quase toda a gente se prepara com antecedência para que não lhe falte o que mais teme que lhe venha a faltar. Se for dinheiro, há quem não se importe de viver de uma forma muito modesta e ter uma conta recheada com medo que lhe venha a faltar. Se for saúde, há quem tome medicamentos mesmo sem necessidade para se prevenir de ficar doente e ter de tomar medicamentos. Se for espiritual, há quem siga uma religião e um Deus não por acreditar mas por medo de não acreditar e do que isso possa trazer à sua vida. Então, mas por estranho que pareça cada um carrega o seu garrafão, um peso desgastante em suas vidas, por ter medo que ao não levá-lo este lhe venha a ser útil, quando afinal é o carregar desse peso que acaba por enfermar as pessoas. Cada um sofre da doença que teme que venha a ser a sua doença, porque é em função dela que leva a sua vida. Por exemplo, se alguém passou por dificuldades financeiras quando era novo, fará tudo o que estiver ao seu alcance para jamais voltar a passar pelo mesmo. E tão ocupado andará a tentar não voltar a passar por essa situação que toda a sua vida roda à volta do não-passar-por-isso-outra-vez. E quando se aperceber dessa situação verá quantas coisas lhe passaram ao lado, tudo o que não viveu e não experimentou porque afinal o principal era não voltar a ter dificuldades financeiras. Tudo, no domínio do efémero, tem um prazo. Um prazo de validade. O prazo de validade é um espaço de tempo em que algo cumpre uma função e realiza a sua razão de existir. Passado esse tempo tem lugar uma transformação, e em vez de útil passa a ser um peso, em vez de são passa a prejudicial. O difícil é transportar esta noção de prazo para os nossos sentimentos e emoções. Quando o amor se transforma em possessão, quando o poder se transforma em subjugação, quando a generosidade genuína se transforma em show off, quando um desentendimento se transforma em guerra, quando uma tragédia se transforma em oportunismo, quando um sonho se transforma em utopia. Costuma-se dizer que a vida é mesmo assim. Pode ser que sim, mas também pode não ser. A Paz é uma chave universal. Funciona em todas as fechaduras, das mais ferrugentas às mais oleadas, e até funciona em portas abertas. Paz é capacidade de transformar o domínio do efémero em equilíbrio. Quem vive em paz não carrega garrafões de água porque sabe que esta jamais lhe faltará. Quando nos cumprimos e nos realizamos o que anteriormente era uma meta passa a ser uma ferramenta. Paz é a capacidade de pegar num fruto podre, com amor enterrá-lo, nutri-lo sabendo que até do fruto mais podre pode sair a semente mais nobre e que dará continuidade à vida, num processo contínuo. Paz é capacidade de pegar numa relação que não resultou e ver que o que não resultou não foi a relação mas a expectativa da sua duração. Paz é a capacidade de ver que somos o resultado também de tudo o que não resultou em nós, e por isso sorrimos e estamos serenos porque nos aceitamos com alegria. Aceitar-se é aceitar os outros.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 11

Obrigado pelas confusões, mal-entendidos, incorrecções que trazes à vida, para que de um exemplo se possam tirar mil e uma soluções que sirvam a muitos. Que confusões e mal-entendidos serão esses? Na verdade é quase tudo. São um conjunto de situações, comportamentos, conceitos, encadeados entre si que fazem parecer que tudo está bem e correcto, e mesmo estando não está. Que confusão! Vamos a ver se não dá em mal-entendido! Se fizermos uma pequena reflexão sobre o nosso dia-a-dia, vamos encontrar um conjunto de comportamentos estereotipados, isto é, repetitivos, para cada situação/acontencimento um comportamento pré-definido, uma emoção pré-estabelecida. Exemplos: se alguém nos passa à frente numa fila temos que ralhar; se alguém nos apita no trânsito temos que nos enervar, apitar mais, e fazer gestos menos dignos; se algo corre mal e não nos agrada a culpa é do governo, do cônjuge, do vizinho, ou do patrão. Raramente somos convidados a reflectir sobre esses comportamentos e a definirmos para nós mesmos se ele nos serve, ou se serve alguém ou alguma coisa, que contributo traz à nossa vida. Para preencher este vazio de reflexão existem várias alternativas, umas mais recentes que outras, umas mais na moda que outras, umas mais eficazes que outras, mas todas se complementam, e no final nenhuma é pior ou melhor, apenas mais adequada à situação ou menos adequada. Como alternativas temos a televisão, as novelas, as séries, onde são sorvidos diversos comportamentos sociais. Os casos mais recentes são as séries juvenis: Morangos com Açúcar e Floribela. Outra alternativa são as religiões, sejam elas quais forem conforme a cultura, crença e identificação de cada um. Outra alternativa são outras culturas espirituais/espiritualistas que promovem o encontro de cada um consigo próprio como por exemplo o Yoga, meditação, relaxamento, Tai-Chi, etc. A dificuldade perante tamanha oferta é a mesma de quando havia pouca oferta, e que nos aparece sempre que existe uma alternativa: a escolha. Mas a pergunta que antes de responder a todas as outras devíamos fazer é: que significa para mim uma escolha? É uma atitude/acção/intenção de paz, de bem-estar, de serenidade, ou algo que me deixa sempre inquieto(a), inseguro(a), ao ponto de dificultar com frequência a tomada de decisões? A pior coisa que pode acontecer quando se tomou uma decisão é pensar que a outra alternativa era melhor. Neste momento toda a energia disponível para fazer resultar a decisão tomada ficou dividida. Temos o corpo num lado da escolha e a mente no outro lado, o da dúvida. A partir daqui nascem infinitas confusões e mal-entendidos. Pudera! Fez-me uma opção mas só entrámos nela a 50%. Os outros 50% ou estão em “stand-by” ou ficaram perdidos no “se eu tivesse…”. Não existem escolhas certas nem erradas. Nem melhores nem piores. Temos que nos lembrar que as escolhas têm dois júris a assistir: o coração e a razão. Não admira que não seja fácil decidir, fazer uma escolha. Mas pior ainda é não decidir, é deixar andar. Todos deixamos andar, uns mais outros menos. Quantos de nós não vemos coisas que não concordamos que aconteçam e depois não fazemos nada para o evitar ou para acabarem quanto antes? Há um espírito colectivo que deve ser reactivado quanto antes em todos nós. É o espírito do cardume e do bando de aves. Ou seja, quando um elemento vira à esquerda seguem todos para a esquerda, quando segue em frente todos seguem em frente. Em cada tomada de decisão há um acompanhamento, há um movimento ordenado, fluído, harmonioso do colectivo. Contudo, cada elemento tem que estar no seu melhor, para que o movimento ordenado não resulte em confusão e desorientação como tantas vezes vemos. Então, será que o nosso movimento diário se enquadra num colectivo construtivo? Ou de cada vez que damos um passo devemos meter em causa para onde nos mandam e que o melhor mesmo é estar parado? Não entraremos, assim, num estado de obediência cega? Não necessariamente. Paz é capacidade de vivermos em ordem sem ordens. Paz é o reencontro de cada um com o melhor de si e por isso torna infalível a qualidade de cada decisão que cada um toma e que afecta a sua vida e a dos outros.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 10

Obrigado pela alegria que a tua vida traz a este planeta. Obrigado por fazeres parte da selecção lusitana convidada a fazer parte deste país e a elevá-lo. Obrigado por teres aceite o convite e essa tarefa honrada. Mas ao contrário de outro tipo de selecções, não há substitutos no banco que façam o nosso trabalho no nosso lugar se estivermos cansados ou lesionados. Cada um de nós joga numa posição, insubstituível, porque o nosso “jogo” é um só mas composto por “jogos” individuais, todos contribuindo para o resultado final. Ao contrário dos outros jogos, este requer que todos se entreajudem como elos numa cadeia, para que a força de cada um seja a força de todos, e no final só se atinja o objectivo se todos os elos estiverem unidos entre si. Para que isso aconteça cada um tem que respeitar o elo do lado. Pode ser mais chato, mais redondo, mais torto, mais direito, mas sem ele a cadeia fica incompleta, e por isso o nosso julgamento é um obstáculo ao desfecho do jogo. Muitas vezes, quase sempre, perde-se a perspectiva do jogo global e fazem-se jogadas menores, sem importância, que nos distraem levando-no a jogar em posições que não a nossa, e por isso lançam a confusão no plantel. Saindo agora da linguagem metafórica, o “jogo” a que me refiro é a vida. Onde cada um tem uma posição única, um contributo inigualável, com uma importância relevante mas relativa, ou seja, há pessoas cujo contributo é fazer o passe para golo, e outras cujo contributo é o golo em si. Qual é a mais importante? Depende, é relativo, mas em conjunto, são ambas importantes e relevantes para se atingir o objectivo. No panorama actual do mundo, com tantas mudanças em curso, do clima às políticas, dos sistemas financeiros aos mercados globais, da falta de comunicação à Internet, com tanto pequeno jogo a decorrer, muitas vezes nos distraímos e quando damos por nós já estamos noutro jogo qualquer. O que realmente todos queremos é ser felizes, vivendo em paz, de boa saúde, com quem amamos. Como pensar nisto globalmente assusta muita gente, ainda que subconscientemente, temos tendência a reduzir este jogo a um nível mais pequeno. E tratamos apenas da felicidade individual, da paz individual, da saúde individual e do amor individual. Até certo ponto, isto é correcto e saudável, mas não nos podemos esquecer do funcionamento em cadeia. Em cadeia, não existem exclusões. Nada, nem ninguém pode ficar de fora. Cada um trata de si, mas também dos outros. Também este “jogo” tem que ter algo para jogar, que possa ser chutado, atirado, para sentirmos ao longo do jogo que estamos nele e a contribuir. A bola da vida é o amor. Nos golos da vida, que são todos os momentos de felicidade, está sempre presente o amor; naquele momento soubemos vivê-lo de forma intensa, e passá-lo a quem estava ao nosso lado, num ambiente de união que nos deixou em êxtase, felizes. Cada vez que viramos as costas ao amor, ao respeito por quem está ao nosso lado, conhecido ou desconhecido, estamos fora de jogo. E mesmo com sinais do fiscal de linha (problemas de saúde, emocionais, depressões, tendências suicidas), muitas vezes não sabemos parar e ver onde deixámos a bola, para voltar a pegar-lhe e entrar de novo no jogo. Outras vezes, distraímo-nos do essencial e cometemos falta. Mais uma vez o jogo é parado para nos darmos conta disso, voltar a ter noção de onde está a bola, e que o jogo só continua assim que a bola é jogada novamente. O amor quando não está presente, é como se a vida parasse, nos desse tempo de olhar em volta, preencher o vazio, reencontrar o sentido da vida, e chutar a vida para a frente novamente. No jogo da vida, há mais diferenças, não há vitória nem derrota. Funciona em cadeia, não há exclusões, a felicidade tem que partilhada por todos os elos sem excepção, se um não está bem, todos zelam por ele e por elevá-lo à sua condição natural de felicidade. Também não existe vitória nem derrota nem empate porque o jogo não tem fim. Existe apenas cada momento, cada instante, cada experiência de cada um no presente e onde se encontra. Paz é capacidade de transformarmos esses momentos e experiências em actos de amor. Amor por nós próprios e por cada elo, para nós próprios e para cada elo. O estado do “adversário” é sempre o espelho do nosso contributo.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 9

Obrigado por continuares por cá. Vivo(a) quero eu dizer. Em tempos tão difíceis como os actuais, de tanta gente perdida nas ilusões da vida, é uma honra ter-te ao meu lado, vivo(a) quero eu dizer. Obrigado por seguires os meus artigos. Não que eu queira ser seguido, ou seguir alguém, quero sim contribuir para tirar o “gui” do Seguir. E participar da festa que é alguém descobrir-se, ou melhor reencontrar-se, devolvendo-se a si mesma. Não que estivesse perdida, não que tivesse ido a algum lado sem encontrar o caminho de volta, simplesmente porque se esqueceu de quem era, e nada mais. Esta é a era dos reencontros, dos reencontros com a memória e da dissipação das ilusões. Mas afinal o que é isto do esquecimento, e da ilusão? Eu conto-vos a história de Lúcio. “O Lúcio era uma criança como tantas outras, sensível ao que se passa em seu redor, mas vivendo na inocência do seu estado de criança. Certo dia, no regresso a casa, reparou que umas máquinas grandes como nunca tinha visto, entravam num terreno próximo. O terreno era grande, verdejante, cheio de flores e borboletas, com pequenos montes e algumas árvores dispersas. Lúcio conheceu sempre aquele terreno daquela forma, com aquelas árvores, com aqueles montes. Via, agora, aquelas máquinas ruidosas a entrarem e a revolverem tudo. Os pequenos montes foram destruídos. A relva desaparecia à medida que ia sendo revolvida. As árvores foram sendo cortadas uma por uma. Para o pequeno Lúcio tudo aquilo foi um acontecimento perturbador. Como podia algo tão belo, tão natural, ser destruído daquela forma, sem razão aparente, tão rápido, tão sem aviso. Foram imagens que marcaram bastante o Lúcio. No dia seguinte, ao passar novamente pelo local, na sua rotina diária, ficou ainda mais confuso e perturbado. Não bastava tudo ter sido destruído e revolvido, o terreno tinha ficado todo esburacado, cheio de valas, num cenário ainda mais aterrador. Quando parecia que pior não podia acontecer, eis que acontecia. Foi de tal modo marcante a situação que o Lúcio decidiu mudar de rumo nas suas deslocações, e começou a evitar o local. Tudo correu bem até que certo dia, apanhando boleia de um colega, viu que iria passar no local. Rapidamente a sua cara se entristeceu e pediu para não irem por lá. Mas como era o caminho mais rápido, lá teve que ser, e o Lúcio teve que enfrentar o seu medo de voltar a olhar para o terreno destruído. Quando passaram naquele local, estava lá algo diferente, para surpresa de Lúcio, cujos olhos estavam mais abertos que uma janela num dia de sol. No lugar dos buracos, tinha sido construída uma escola, com um pequeno jardim à frente e baloiços. Seria aquela a futura escola de Lúcio.” – fim da história. Esquecemo-nos que os Lúcios somos nós todos. Pela inocência de uns, medos e traumas de outros, ou por desgosto, interpretamos os acontecimentos que nos rodeiam e cuja explicação nos ultrapassa, como destrutivos, cada vez pior, cujo desfecho nos parece apocalíptico, o fim-do-mundo. E tão mau nos parecem, que optamos por fazer coisas que nos distraiam para não termos que enfrentar esse aparente desfecho, porque nos parece demasiado forte emocionalmente. Mas será que é assim? A destruição que os Lúcios vêem é apenas uma ilusão porque o que está a haver é uma transformação, uma modificação, uma mudança. O caminho alternativo é uma ilusão, porque foi tomado para não enfrentarmos o que afinal era também uma ilusão. As valas que vemos não são para cairmos ainda mais fundo na vida, são os alicerces de uma construção que tem que ser enraizada na terra, para ser sólida e suportar o que depois virá. Para muitos Lúcios o que depois virá será a consciência que esta experiência foi uma grande lição na escola da vida. E que afinal somos todos arquitectos. Construímos vidas, construímos seres maiores porque fazemos parte desta mudança. Parte activa. Muitas vezes ignoramo-lo, pensando que é impossível eu ser co-responsável de algo tão grandioso. O estado de grandiosidade é um estado de perspectiva. Se não soubermos ver além da aparência de cada momento e se nos afastarmos em fuga do mesmo, perderemos a festa da inauguração desta construção magnífica que é viver em paz. Paz é a capacidade de ter confiança no projectista, amar cada momento por mais doloroso que se apresente, e viver em serenidade porque se aproxima o dia da inauguração.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 8

Obrigado. Sinto-me sempre impelido a agradecer. O agradecimento, o dar graças, a gratidão, é uma forma subtil de a ou as pessoas a quem se agradece sentirem que fazem parte da nossa vida, e sentirem-se úteis a alguém, motivadas a continuar a sua vida, mesmo crendo que esta é fútil e sem importância para os demais. Porém, a vida é em si mesma, uma acção de graças. É uma compilação de pequenas perfeições que resultam em pleno, infalíveis, fruto de um propósito que servem exemplarmente. Há quem diga que cada um tem a vida que merece. Outros dirão que têm a vida que fazem por merecer. Outros ainda que têm a que é possível. Outros que isto assim não é vida nenhuma. Todos se referem às suas realidades, com base nas suas experiências, expectativas, desilusões e sonhos. O sonho é o motor da vida. É a transcendência da sua segurança, do que lhe é conhecido e palpável para a região do desconhecido e mais além. Toda a expectativa, sucesso, insucesso, desilusão, êxtase, nasce do sonho original que cada um tem para si e para a sua vida. Falo do original, porque quando se sucedem as etapas que o concretizam, muitas vezes surgem sonhos parasitas influenciados, sobretudo, por uma sociedade pré-formatada. O sonho transcende toda a pré-formatação, é uma expressão colossal de liberdade e expansão. Expansão no sentido de sair de si próprio e chegar aos outros, não de invasão, trazendo-lhes, ou melhor, devolvendo-lhes o sentido da certeza do resultado do sonho original, individual. Simplificando, quando os nossos sonhos se ficam pela vida económica melhor, carro melhor, casa melhor, mais salário, Benfica campeão, Portugal campeão, sendo todos eles respeitáveis, falta algo. Falta sempre o fio condutor que reúne os sonhos. No sonho original há sempre um componente de unidade ao sonho do outro, que une ao sonho do outro, até criar uma matriz, uma teia, uma união inequívoca, um sonho que é ao mesmo tempo individual e comum a todos, onde realizar o meu sonho é realizar o teu, vice-versa e versa-vice, realizar o teu sonho é realizar o meu. Realizar sonhos é um fenómeno sem sentido. Por certo já terás sentido que não faz sentido haver sentido no realizar do sonho! Como assim? Quando se realizam os sonhos, o que é dentro assim será fora, o que é em cima, assim será em baixo. Não há sentido, direccionalidade, funciona em omnipresença. A fonte é ao mesmo tempo a foz, o alfa é ao mesmo tempo o ómega, o princípio é o fim. Por outro lado, não faz sentido realizar sonhos. Mau! Só confusões e contradições?! A vida é já o sonho em acção. É o sonho e o estado de graça pelo mesmo. Daí o agradecimento inicial. Estou grato pelo sonho manifestado. Estou grato por estares aqui, por estarmos juntos. És parte do sonho que tenho para a minha vida. Tens um papel único, intransmissível. A única coisa que tens que fazer, não é sonhar, é não boicotares o sonho com os outros “sonhos” que te desviam da tua felicidade prometida, devida, e pronta-a-servir. “Pede e ser-te-á dado”. Mas nesta fase de mudança de consciências, escusas de pedir, é só: “serve-te que está pronta”. Ao “servirmo-nos” da felicidade, tal como quando acendemos uma luz numa sala, a sala ilumina-se para todos e não só para quem a acendeu, e todos beneficiam dessa luz reveladora. E, nesse estado “iluminado”, será mais fácil para os demais se verem a si mesmos e quem está à sua volta com uma clareza inexplicável. Na luz dos corações despertos só há lugar para a serenidade. A serenidade de saber que o sonho é a sua própria manifestação. Que a felicidade sonhada não é a que está inalcançável, uma mera ilusão, mas a que se pratica. Que o amor sonhado não é o que está inalcançável mas o que se pratica. Que o sucesso, o respeito, o amor-próprio, não são metas a alcançar mas sim o fruto da prática diária do sonho que um dia tivemos para nós, para os nossos ente-queridos, o nosso país, planeta, e o que de mais houver. Paz é a capacidade de desprogramarmos das nossas mentes todas as pré-formatações, regras de auto-destruição maciça de seres que nasceram do amor, com amor, e para o amor, mas que andam tão confundidos ao ponto de perguntarem o que andam cá a fazer. Paz é a própria intenção de querer mudar-se. Paz é o terreno fértil onde floresce e cresce viçoso o sonho da paz em nós.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 7

Obrigado por sentires vontade de ler este artigo. Ele existe com o único propósito que é tocar no coração de cada um a música não que queria ouvir, não a que gostava de ouvir, nem tão pouco a que deve ouvir, mas sim a música que sempre (h)ouve. Do início da eternidade até ao seu fim, em todos instantes soou, soa e soará o diapasão do amor que nos mantém afinados ao longo da nossa existência. Do diapasão sai a nota da paz omnipresente e omnissoante na vida de todos e de cada um. Uns optam por ignorá-la e passam pela vida desafinados consigo mesmos e/ou com os outros e nada do que fazem parece resultar, quer seja trabalho quer sejam relações. Outros sentem que há algo mais a orientar as suas vidas, sem que hajam grandes explicações ou necessidade delas, chamam-lhe fé. A fé, tal como todos os restantes atributos divinos, tem a vantagem de ser completamente grátis. Se o dinheiro fosse uma necessidade básica elementar e atributo divino, não acredito que nascêssemos nus, sem um tostão nem sequer um bolso para o guardar. No entanto, nascemos com um coração, uma mente, e um conjunto de atributos mais ou menos despertos em cada um, que nos caracterizam e, quer gostemos quer não, quer percebamos ou não por que gostamos mais de uns e menos de outros atributos, todos eles fazem igual parte deste ser maravilhoso que é cada um de nós. Dizia que a fé é um atributo grátis. Até tem enquadramento científico uma vez que não se cria, não se perde, mas em tudo o que toca transforma. Para além disso não tem jóia, anuidade, nem prazo de validade, e é chave-na-mão. Contudo, apesar da gratuitidade divina, é dos atributos à volta do qual mais negócio se faz e mais dinheiro gera. Não me constou, até hoje, que as entidades divinas quaisquer que fossem, independentemente da crença de cada um, cobrassem imposto sobre a fé que tão amorosamente cederam em cada obra da criação. Nem que tivessem bancos para guardar o retorno das oferendas em nome da fé. Pegando numa frase famosa e dando-lhe um retoque, a Deus o que é de Deus, ao Homem o que é do Homem. A fé não é um título do qual alguém se possa apropriar e negociar com os demais. A fé é uma ferramenta. Comunitária e individual, daí se poderem originar alguns mal-entendidos. E não é uma ferramenta de casualidades, de medida e actuação estatística, do tipo: “Eu creio ou necessito de algo. Se acender 3 velas as minhas hipóteses de ser bem sucedido são maiores do que se acender só 2. Outro dilema, compro 3 velas de 1€ ou de 5€?”. A fé é uma ferramenta da certeza, da entrega pura e total, ao serviço de si e dos outros. Nem sequer é egoísmo querer servir-se também a si próprio. Como podemos semear algo se não temos a semente? Há que encontrar primeiro a sua semente. A fé não funciona com a dúvida: “Se não resultar posso sempre voltar mais tarde com 4 velas!”. Não servir dois senhores. Ou se é pela fé, fruto da certeza, ou se fica na dúvida e nela se permanece. Apesar do tom religioso deste artigo, tudo tem aplicação em tudo o resto. Como podemos sair duma pretensa crise, se não temos fé de que dela podemos sair? Como podemos arranjar um emprego se não temos fé que hajam disponíveis? Como podemos querer ter filhos e ser férteis na sua concepção se não temos fé que os possamos ajudar a crescer e no seu futuro? Na dúvida a fé é eFÉmera, na certeza a fé é eFÉctiva. A dúvida não vem da fé, mas sim de si mesmo, de cada um. É para isso que serve o consolo de pagar seja o que for para que a fé tenha a certeza que nós acreditamos nela. Isto é: “Se o dinheiro me custa tanto a ganhar e me faz falta para tanta coisa, se eu investir num artigo de fé, então é porque realmente acredito, tenho fé.”
A maior prova da fé em acção (ou será da acção da fé?) são as crianças. O que não existe na matéria cria-se na imaginação. Não reconhecem na mesma frase as palavras “limite” e “felicidade”. Em tudo o que fazem dão-se, entregam-se, partilham-se. Amo todas as crianças, de todas as idades. A todas elas, a todos vocês, a todos nós, dou os parabéns no dia de hoje. Aproveitem este dia e comemorem-se. Paz é a capacidade de reconhecermos vivo em nós o que de mais belo reconhecemos vivo nos demais. E a beleza não é um acto de fé, mas sim a fé em acção.

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M.A.S.

Estado de Paz - 6

Obrigado por trazeres a este planeta a luz e paz da tua existência. Tal como nas prateleiras do supermercado, também na vida existem prateleiras com milhões de luzes prontas, em potencial, a brilhar e a irradiar a sua energia amorosa, à espera de serem as escolhidas e montadas no seu casquilho. Mas, ao contrário do supermercado, não há luzes de primeira nem de segunda, não há luzes predilectas nem segregadas, são todas vistas de igual forma. Cada luzinha tem um brilho próprio que não é fixo, não é sempre o mesmo. Na verdade até é, mas naquilo que aceitamos como real assim não parece. As luzinhas, que todos somos, funcionam quase exactamente como as lâmpadas artificiais. Cada um de nós é uma ligação, uma conexão a uma luz maior, uma extensão da fonte de energia. Poderíamos considerar a ligação como um cabo eléctrico que, por curvas e contracurvas, leva a energia onde é preciso quando é preciso para a luz brilhar sempre. Mas então porque não brilha sempre a luz da mesma maneira? E quem disse que não brilha? Uma lâmpada se não for limpa regularmente perde o brilho? Claro que não. Apenas aparenta menor intensidade. Se sairmos à rua de óculos escuros é sinal que o sol brilha como menos intensidade? Claro que não. Apenas o aparente. Se o dia estiver nublado, o sol está a brilhar com menos intensidade? Se um candeeiro tiver um abajur mais espesso então a lâmpada está mais fraquita? Claro que não. Parece que sim, mas não verdade não. São tudo aparências. São estados relativos que, por várias condicionantes, fazem uma coisa parecer muito inferior àquela que na verdade é. Infelizmente as vidas de cada um de nós estão cheias deste “pó” invisível, de pensamentos, de emoções, de traumas, de medos, de ansiedades, de expectativas, de desilusões, de inseguranças, de tudo e mais alguma coisa, que se acumula sobre as luzinhas durante tanto tempo que elas próprias deixam de ver o seu brilho e de se reconhecer como luzinhas e pensam que são o pó. E tanto tempo lá esteve o pó que, entretanto, se moldou e tomou a forma de lâmpada e aparenta ser uma lâmpada, mas baça, fraca, incapaz de brilhar mais forte, meia-apagada, insignificante, sem importância. E então, daí em diante, quando a luzinha vê outra mais intensa, o seu maior desejo é ser como ela, com uma presença forte, reconhecida, importante, não é por acaso que se chamam estrelas a determinadas pessoas. Mas onde está a diferença de brilho entre elas senão na camada de pó que cada uma tem?

O que ainda quase todas não repararam e se repararam têm dificuldade em aceitar, sobretudo em sistema colectivos, é que cada lâmpada tem um casquilho diferente. Temos, portanto, uma fonte comum, com infinitas extensões, cada extensão tem um brilho individual mas tão intenso como a fonte que lhe dá origem, montadas num casquilho que é tamanho único para a lâmpada a que se destina, não serve para nenhuma outra, não se pode trocar nem reclamar na garantia. O casquilho é, ao mesmo tempo, o que separa a lâmpada da fonte mas também o que os liga. Cada vez que a lâmpada se queixa da pouco energia que lhe parece chegar, e que é sempre menos do que a da lâmpada vizinha, a culpa, invariavelmente, é do casquilho. O casquilho são todas as desculpas que diariamente damos para não assumirmos a limpeza dos “pós”, das poluições que acumulámos ao longo dos tempos, e que nos impedem de brilhar no máximo esplendor, irradiantes, e cuja responsabilidade tem que ser sempre de algo exterior que se torna num obstáculo. Mas como o casquilho é a nossa ligação à fonte, enquanto não assumirmos a responsabilidade da limpeza do nosso ser, por pensamento, palavras e actos amorosos e pacíficos, de acordo com a nossa essência de luzinhas, parecerá que estamos presos à vida apenas por um fio.

Paz é a capacidade de limpar tão bem o pó, mas tão bem, que vemos que afinal não há fios, nem casquilhos, e que a fonte e luzinha são um só.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 5

Obrigado por trazeres a este mundo a originalidade da tua existência, e a riqueza imensa que é a singularidade da tua vida. Não há sinfonia no universo que não seja composta por notas singulares. A arte da sinfonia consiste em criar uma melodia, relacionando as notas umas com as outras de uma forma harmoniosa. As notas podem ser tocadas individualmente ou em simultâneo, sem que com isso se perca a harmonia. Os sons são, então, caracterizados por altura (agudos e graves), duração, intensidade e timbre. A vida e a música misturam-se na sua essência. Somos todos notas, responsáveis pela harmonia da sinfonia. Temos, cada um, características físicas e emocionais próprias que são a nossa altura e timbre. Temos, cada um, um papel a desempenhar, um tempo para agir activamente e um tempo para agir passivamente. Por outras palavras, há um momento para se fazer ouvir e um momento para se estar em silêncio. As pausas não são falhas na música. São intervalos propositados da construção da harmonia. Não são passividade da nota.
Na música, como na vida, basta um pequeno passo para passar da harmonia para o ruído. Basta uma nota que decidiu tocar na vez de outra; uma nota que teima em não dar a vez à próxima; ou outra que entrou fora de tempo, ou até notas que entram na música errada. Mas o pior de tudo é quando as notas, estando prontas em potencial, com as suas características presentes para entrar em acção, se esquecem que notas são. E passamos a ter sons desarticulados, individualistas, cada um a tocar para seu lado, e outros a tocar para si próprios. O que é que acontece se fecharmos as notas todas dentro de uma caixa, durante tempo demais, e ao fim desse tempo se vira a caixa para baixo e abre uma pequena porta? As notas caiem todas quase de uma só vez, esquecendo-se que eram notas, que deviam respeitar certos princípios, e também a si mesmas, para se criar a harmonia.
O que acontece a um povo, que outrora foi uma sinfonia de perfeição divina, cujas notas chegaram e soaram em todo o mundo, e que, aos poucos, foi pondo de lado os instrumentos nobres e trocando-os por reles amostras, acabando, por fim, por ser fechado numa caixa chamada Portugal por alguém que se julgava o maestro “Só-Azar”, mas que num golpe de sorte e histórico viu, este povo, ser aberta uma pequena porta num dia 25 de Abril? O que acontece? Acontece que as notas saíram todas ao mesmo tempo, sabendo que a música agora era outra, e passaram do silêncio forçado ao ruído estridente. Não houve a serenidade de transformar e organizar as notas liberadas em melodias. E, passados cerca de 30 anos, o que devia dar origem à oportunidade deu ao oportunismo, o que devia ser liberdade passou a libertinagem, o que devia ser liderança passou a dirigismo.
Como sair disto? Mais do que procurar maestros, normalmente designados ministros, para resolverem tudo, para responsabilizar e culpabilizar se não resolvem, é necessário cada um voltar a descobrir a nota que é. Se o maestro precisa do SOL, mas este lhe calha a SI, tenha DÓ, que MIlagres ele não FÁz Para além de se lembrar que nota se é, tem que se respeitar que o outro seja uma nota diferente, e toque numa altura e intensidade diferente da nossa. Nenhuma nota é comparável a outra. O maestro, porém, e partindo do princípio que percebe de música, pode ser catalizador e acelerar todo este processo. Precisa Portugal, assim, de notas, também musicais, que sejam líderes de si próprias e disciplinadas a tocar num todo e a contribuir para o todo, e de um maestro líder de si próprio, que pegando na entrega de cada nota e contributo individual, o sublima transformando-o num colectivo harmonioso chamado música. E do equilíbrio do serviço de cada nota individual, se equilibra a harmonia final e se cumpre Portugal.
Paz é a capacidade que cada um tem de se libertar do som tosco que pensa que é e voltar a soar harmoniosamente. Já falei das notas, falta completar dizendo qual é o instrumento. O instrumento pelo qual as notas se fazem harmoniosas é a Ética. Se se fizer soar uma nota límpida num instrumento sujo, só sai ruído, mas com ética a nota soa Cristal. Sê a nota maravilhosa que sempre foste, embora durante um certo tempo disso tenhas duvidado.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 4

Obrigado por ser um Ser único e inigualável e por isso mesmo não ter que ser igual a mais ninguém nem seguir quem quer que seja porque tudo o que pretendia atingir você já é, podendo é não ter, ainda, consciência disso.
Celebra-se neste período a Páscoa, e este artigo poderia muito chamar-se “Estado de Pazcoa”. A Páscoa simboliza uma diversidade de situações características das crenças e tradições de vários povos. No entanto, há um factor comum, simboliza uma transição, uma mudança. Não uma mudança qualquer, como de uma camisa, ou de sapatos, mas de uma mudança de estado de grandiosidade, de um nível para outro mais sublime, de uma libertação, de uma regeneração, uma vida nova, renovada. A história é rica suficiente em exemplos do passado sobre este assunto, por isso irei concentrar-me apenas, neste artigo, nos exemplos do futuro. Existem, por vezes, dificuldades em situarmo-nos em termos de importância no tempo. Ou seja, pensarmos que no nosso tempo nada se está a passar digno de registo, e nada do que fazemos terá uma importância por aí além no futuro, e que o nosso papel é tão insignificante ao ponto de pensarmos que as coisas são como são e nada do que fizermos pode alterar o quer que seja. Mas como dizia o outro: a única coisa que não muda é que tudo está em mudança. O que não ficou claro é se somos nós que acompanhamos a mudança ou se somos nós que a dinamizamos. Ou será que ficou? A mudança serve precisamente para não deixar as coisas na mesma. Por outro lado podemos perguntar a nós próprios: “Não somos já livres? De que mais nos devemos libertar? Que mais nos prende?”. Cristo dizia que a verdade liberta. E eu pergunto: Qual verdade? A minha? A do governo? A da União Europeia? A da Igreja? Penso que Cristo se referia à verdade enquanto estado de consciência, a capacidade de aceitação, sem julgamento. E a aceitação não tem que ser subjugação. Devemos aceitarmo-nos aceitando os outros como são. Mas, muitas vezes, as pessoas aceitam ser apenas versões medíocres de si próprias, sendo necessário voltar a encontrar um referencial que as devolva a si próprias mostrando-lhes o seu potencial, ajudando-as a mudarem-se, através do exemplo, sendo a mensagem e não o mensageiro. Páscoa, no verdadeiro e único sentido, é todos os dias que formos capazes de aceitar essa mudança. Também é preciso respeitar todos os que quiseram manter-se escravos, literalmente e/ou simbolicamente falando, por medo de que a libertação poderia não ocorrer e com isso ficarem ainda pior do que estavam. Esses não são fracos, nem cobardes, são o exemplo. A todos esses agradeço a mensagem que deixaram, de que é do medo a primeira libertação a ser feita. Mas quantos a conseguiram fazer? Ainda hoje? Quem se libertou do medo do que virá amanhã? Da falta de emprego? Da falta de perspectivas? Das diversas dificuldades que atravessamos actualmente? Da falta de visão de como sair deste ciclo? Amigos, ainda vivemos na escravatura. Vivemos na escravatura da dúvida. A dúvida é quando deixamos de viver porque pensamos que não sabemos. Viver é quando não sabemos sequer que pensamos. Isso só se consegue com entrega à vida. Agora apenas existe capitalismo existencial. Algo em troca de algo. Não acredita? Quer um exemplo? Se eu lhe propuser mudar algo na sua vida, você não pergunta logo: “E o que ganho eu com isso?” Chegou a hora da Pazcoa. A libertação das amarras da dúvida, da desconfiança e apreensão, pela via da Paz. Paz consigo próprio(a). É chegada a hora da libertação do Cristo da cruz. O sofrimento, a dor e o sacrifício, e a tristeza associada não fazem parte da nossa natureza nem têm que nos acompanhar para sempre. Tenho a tal proposta para lhe fazer, a que muda vidas, uma nova versão da verdade, uma outra verdade: e se afinal Cristo não tivesse sido crucificado? Seria, você, capaz de viver a partir de hoje esta situação como sendo verdade? Quem seria para si a entidade que aceitaria como veículo desta verdade? Se for eu a dizer você acredita? Seria a Igreja capaz de, provada a sua veracidade, aceitar reescrever toda a sua história e propor uma nova vivência de fé a todos os católicos e não só? Uma coisa é a verdade, outra é o que estamos dispostos a aceitar como tal. No meio subsiste a dúvida. Mas só se você quiser e só enquanto você quiser. Escolha libertar-se. Escolha libertar-se agora. Não duvide, seja você próprio(a).

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 3

Obrigado por fazer parte da versão bela da vida. Se a sua versão é outra, fique sabendo que está sempre a tempo de lhe fazer um “upgrade”, ou seja, uma actualização para uma versão mais completa, abrangente, com os erros do passado corrigidos, com novas funções, e da qual se espera melhor desempenho em todos os campos.

E a vida é tão mais bela quanto nós a descomplicarmos. Certo? Nem por isso. Por outras palavras, o que há a descomplicar? O nascer do sol? O ciclo natural da vida? O ciclo lunar? A rotação do planeta? O funcionamento complexo e ao mesmo tempo perfeito do nosso corpo? E do cosmos? Tudo na vida é naturalmente belo e maravilhoso. Obviamente que esta frase é questionável e profundamente subjectiva. Senão, onde enquadrar todo o sofrimento, dor, agonia, ódio, desentendimento, guerra, fundamentalismo, extremismo, terrorismo, fanatismo, a morte, a perda, os traumas, desgostos, a tristeza, a maldade? Ou será que não tem enquadramento? Por exemplo, se estivermos tristes, podemos decidir fazer uma viagem para o lugar dos nossos sonhos, para recarregarmos baterias, levantar o ânimo e voltarmos limpos para uma vida renovada. Mas ao chegarmos a esse lugar, no exacto instante em que lá chegamos a tristeza também está lá. Porquê? Porque já estava lá? Porque nos segue? Porque antecipa os nossos passos e não a conseguimos enganar? Ou porque a carregamos connosco? Quem diz tristeza diz tudo o resto. Nada mais há a descomplicar na vida do que a nós próprios. A vida proporciona na perfeição os cenários para que tudo aquilo a que nos propomos possa realizar-se e manifestar-se. TUDO! Então, o que tem andado a fazer de complicado de tal modo que a sua vida anda do avesso? O que tem dito, o que tem feito, o que tem pensado, sobretudo pensado, imaginado, ansiado, para que a materialização, aquilo a que chama de realidade, lhe seja tão dolorosa, tão contrária às suas expectativas, que sempre que pode se queixa de alguma coisa? De qualquer coisa? A queixa é a linguagem das rãs. Não é a linguagem do entendimento, da elevação, do esclarecimento, da serenidade de quem quer renovar-se e à sua vida, para que ela decorra com a simplicidade, a inocência e despreocupação de quando éramos crianças. Talvez seja hora, então, de se perguntar quando deixou de ser criança. Em que momento pensa que perdeu o brilho no olhar, o encantamento da vida, a energia radiante, envolvente e contagiante? A alegria espontânea, o riso fácil, a docilidade dos gestos, a pureza dos olhares? Voltemos ao lugar de sonho onde foi descarregar a tristeza ou stress ou seja o que for. Quando chegou ainda carregava esse peso. E da mesma maneira que decidiu que queria libertar-se do peso e o fez, o processo de recuperação do melhor de si próprio(a) é tal e qual. Dar tempo a si mesmo(a) de libertar-se das camadas de “complicação” que foram sendo depositadas em si e também por si ao longo do tempo, para descobrir que nunca deixou nem perdeu, a criança que, afinal, sempre existiu, existe e existirá em si.

Mas, em primeiro lugar tem que querer que assim seja. E depois de querer, fazer. Quanto do tempo do seu dia-a-dia é passado a agradecer? A comemorar o mínimo que seja que lhe corra bem? Muito pouco por certo. Todos fomos educados e preparados para que por muito que a vida nos corra bem, das duas uma: depois de meia vida passada a tentar ter alguma coisa a outra metade é passada a protegê-la para não a perder, ou tudo está a correr tão bem que o melhor é dizer que algo vai mal não vá chegar a conta de tanto sucesso e uma calamidade que deite tudo a perder. Então, o que fazer? Se pensava que ia encontrar aqui a receita para o seu sucesso e felicidade, e as respostas às perguntas que o(a) inquietam, enganou-se. A resposta é a outra face da pergunta. Se a pergunta nasce de si, encontre-se, e com o reencontro virá a resposta. Dizem que as crianças têm resposta para tudo. Seja uma.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 2

No artigo anterior dizia que se estão a perder as referências da paz e equilíbrio, a todos os níveis. No entanto, tudo tem solução, e tem sido assim desde o início dos tempos e até antes, tudo tem solução. A solução é simples, de prática simples, e por ser tão simples tem sido ignorada.

Estamos na Era das revelações, a Era de Aquário, e isto faz-me lembrar a história do peixe que sentia que a vida era algo mais do aquilo que percepcionava no dia-a-dia e decidiu buscar o mar.

Todos nós temos a(s) nossa(s) busca(s), interior e exterior. A realização pessoal, o conforto material, uma casa, um carro, um amor correspondido, um(a) companheiro(a), etc. Os vários tipos de busca levam a vários tipos de sucesso, inclusive o insucesso. Podemos resumir todas as buscas em dois tipos: a busca do TER e a busca do SER.

No entanto, ambas as buscas levam à expectativa de um resultado que pode ter vários desfechos: se não encontrar o que procura uma pessoa fica desiludida. A desilusão leva à frustração, a frustração à perda de confiança, e a perda de confiança a mais dúvidas, sobretudo de si própria. Por outro lado, também o sucesso na busca resulta, muitas vezes, em… frustração. Estranho, não? Como? Lá por se encontrar o que se procura, não significa que se saiba o que fazer com aquilo que se encontra, ou que se está preparado para encontrar. Chama-se a isso deslumbramento. O deslumbramento leva ao esquecimento da razão que levou à procura. É como se procurasse ter uma vida economicamente mais estável, saísse o Euromilhões e depois não se sabe onde gastar tanto dinheiro, ao ponto de o esbanjar em algo de que não se necessita e desequilibrar para o outro lado. E porquê? Porque, entretanto, com o deslumbramento, se esqueceu que a razão de ter ganho o Euromilhões era a busca de uma vida económica estável. O sucesso da busca leva também à necessidade de se marcarem novas metas, novos objectivos. “Ok! Queria um carro novo, já tenho. E agora? Agora quero um maior!”. E entra-se num esquema em círculo de onde nunca mais se sai.

A busca do Ser é semelhante. Se uma pessoa na busca das respostas sobre a sua existência não as encontra, fica desiludida, frustrada e ainda com mais dúvidas. Contudo, a busca do SER nunca poderá ter sucesso. E recupero a história do peixe. O mar representa a sua razão de ser, a sua natureza. Enquanto o peixe procurar o mar jamais terá sucesso em encontrá-lo. Somente aquele que deixa de procurar, encontra.

O processo da busca é sempre no sentido de fora para dentro. Não se pode encontrar quem se é, procurando fora. Mas também não existe o procurar dentro. O procurar dentro é alhear-se do que está fora, excluir o que está fora. A exclusão não é uma propriedade da nossa natureza. Nós somos o resultado da Inclusão de todos os processos naturais na forma humana; contemos todos os elementos da tabela periódica e outros, e somos o conjunto de todas as formas de energia conhecidas e ainda não conhecidas da Natureza, do Cosmos. Somos seres inteiros, e não partes, ou partidos.

Então, se não conseguimos procurar dentro, como chegamos lá? O processo cujo sentido é de dentro para fora chama-se Entrega. E é esse que nos revela. Chama-se irradiar, dar-se, servir, amar. Somente aquele que se entrega amando, deixa de ter necessidade de se encontrar, logo não se busca.

Assim é a Paz. A Paz jamais se busca. Todos os que buscam a Paz, fazer a Paz, o caminho da Paz, jamais terão sucesso. A entrega de si próprio é a manifestação da Paz. Entregar-se é retirar todos os obstáculos, exteriores e interiores, que impedem o livre fluir da Paz, como processo intrínseco da nossa natureza. Nós somos a Paz.

A continuar…

M.A.S.

Estado de Paz - 1

Obrigado por se sentir atraído por este título e por este assunto. Afinal há mais paz em si do que inicialmente suporia. Se o assunto fosse doces, atrairia gulosos, os que lhes atribuem valor, sendo o assunto paz e se sentiu atraído a ler é porque o seu coração ainda a mantém viva e reconhece. Parabéns e longa vida aos atraídos.

Na verdade, todos somos frutos do amor, nascemos para a paz, mas nem sempre em paz. Se ainda há quem nasça em cenários que não os de paz, é por que ainda é necessário um abre-olhos para a existência destas situações atípicas em relação à nossa natureza amorosa e pacífica.

Se não está a concordar total ou parcialmente, mas ainda assim se sente impelido a continuar a ler saiba que está a praticar a paz; paz é também a aceitação e saudável convivência de opiniões diferentes, manifestadas ou não. Podemos não concordar com uma ideia, mas convivermos harmoniosamente, num mesmo espaço-tempo, com alguém que a siga e pratique. Paz é liberdade.

Por outro lado, assistimos no panorama mundial à perda de referências deste estado natural de paz. Para quem liga a televisão e lê os jornais o estado natural, ou instituído e aceite, é a violência, a guerra e a impunidade por inércia dos sistemas, seja político, seja da saúde, da educação, ou de outro qualquer e de qualquer que seja. Se não houver referências anteriores, ou não forem devidamente explicadas e contextualizadas as cenas vistas ou descritas, que confusão não deve reinar na cabeça dos novos seres que nascem todos os dias neste maravilhoso planeta.

Antigamente os mineiros tinham uma mascote que levavam para as minas, um canário, ou outra qualquer. Quando apanhavam uma bolsa de gás a mascote, que era o elemento mais sensível, era o primeiro a dar sinal, normalmente morria e com isso alertava os mineiros para o perigo iminente, e muitas vidas se salvaram assim.

As crianças e os jovens de hoje e de sempre, são os nossos elementos mais sensíveis. E quando se assiste a distúrbios generalizados de comportamento nas crianças e jovens modernos, é sinal de alerta. Alerta este que é continuamente ignorado. Mas até quando vamos mascarar este alerta de doença e inadaptação? Não nos sentiríamos todos confusos se tivéssemos nascido para a paz, sentíssemos que a paz é o nosso estado natural, e de repente para todo o lado onde olhamos não encontramos esse espaço e esse mundo? E por que outra razão que não a nossa própria ignorância, se insiste em amordaçar com anti-depressivos, tranquilizantes e ansiolíticos quem nos está a salvar a vida? A salvar a vida? Quanto tempo mais cada um pensa que é sustentável esta situação fora do equilíbrio? Até que ponto nos afecta a vida diária? As nossas metas? O nosso país?

Se o Homem desequilibra, a Terra como ser vivo que é, restitui ao equilíbrio: maremoto/tsunami no sudeste asiático, furacão Katrina, terramoto na Ásia, gripe das aves…

Mas não há problemas sem solução, nem soluções que não dêem problemas, a menos que se encontre o equilíbrio. E ele está mais perto do que todos suporiam. A solução para este rumo aparentemente perdido, e a sua prática é tão simples que, por isso mesmo, tem sido ignorada quase por uma eternidade.

A continuar…

M.A.S.

Blog: Estado de Paz

Obrigado por apareceres. Encontramo-nos por aqui porque partilhamos uma visão pacífica do mundo e dos seus inúmeros co-habitantes, e por isso os nossos caminhos se cruzaram neste blog. 
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