segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 10

Obrigado pela alegria que a tua vida traz a este planeta. Obrigado por fazeres parte da selecção lusitana convidada a fazer parte deste país e a elevá-lo. Obrigado por teres aceite o convite e essa tarefa honrada. Mas ao contrário de outro tipo de selecções, não há substitutos no banco que façam o nosso trabalho no nosso lugar se estivermos cansados ou lesionados. Cada um de nós joga numa posição, insubstituível, porque o nosso “jogo” é um só mas composto por “jogos” individuais, todos contribuindo para o resultado final. Ao contrário dos outros jogos, este requer que todos se entreajudem como elos numa cadeia, para que a força de cada um seja a força de todos, e no final só se atinja o objectivo se todos os elos estiverem unidos entre si. Para que isso aconteça cada um tem que respeitar o elo do lado. Pode ser mais chato, mais redondo, mais torto, mais direito, mas sem ele a cadeia fica incompleta, e por isso o nosso julgamento é um obstáculo ao desfecho do jogo. Muitas vezes, quase sempre, perde-se a perspectiva do jogo global e fazem-se jogadas menores, sem importância, que nos distraem levando-no a jogar em posições que não a nossa, e por isso lançam a confusão no plantel. Saindo agora da linguagem metafórica, o “jogo” a que me refiro é a vida. Onde cada um tem uma posição única, um contributo inigualável, com uma importância relevante mas relativa, ou seja, há pessoas cujo contributo é fazer o passe para golo, e outras cujo contributo é o golo em si. Qual é a mais importante? Depende, é relativo, mas em conjunto, são ambas importantes e relevantes para se atingir o objectivo. No panorama actual do mundo, com tantas mudanças em curso, do clima às políticas, dos sistemas financeiros aos mercados globais, da falta de comunicação à Internet, com tanto pequeno jogo a decorrer, muitas vezes nos distraímos e quando damos por nós já estamos noutro jogo qualquer. O que realmente todos queremos é ser felizes, vivendo em paz, de boa saúde, com quem amamos. Como pensar nisto globalmente assusta muita gente, ainda que subconscientemente, temos tendência a reduzir este jogo a um nível mais pequeno. E tratamos apenas da felicidade individual, da paz individual, da saúde individual e do amor individual. Até certo ponto, isto é correcto e saudável, mas não nos podemos esquecer do funcionamento em cadeia. Em cadeia, não existem exclusões. Nada, nem ninguém pode ficar de fora. Cada um trata de si, mas também dos outros. Também este “jogo” tem que ter algo para jogar, que possa ser chutado, atirado, para sentirmos ao longo do jogo que estamos nele e a contribuir. A bola da vida é o amor. Nos golos da vida, que são todos os momentos de felicidade, está sempre presente o amor; naquele momento soubemos vivê-lo de forma intensa, e passá-lo a quem estava ao nosso lado, num ambiente de união que nos deixou em êxtase, felizes. Cada vez que viramos as costas ao amor, ao respeito por quem está ao nosso lado, conhecido ou desconhecido, estamos fora de jogo. E mesmo com sinais do fiscal de linha (problemas de saúde, emocionais, depressões, tendências suicidas), muitas vezes não sabemos parar e ver onde deixámos a bola, para voltar a pegar-lhe e entrar de novo no jogo. Outras vezes, distraímo-nos do essencial e cometemos falta. Mais uma vez o jogo é parado para nos darmos conta disso, voltar a ter noção de onde está a bola, e que o jogo só continua assim que a bola é jogada novamente. O amor quando não está presente, é como se a vida parasse, nos desse tempo de olhar em volta, preencher o vazio, reencontrar o sentido da vida, e chutar a vida para a frente novamente. No jogo da vida, há mais diferenças, não há vitória nem derrota. Funciona em cadeia, não há exclusões, a felicidade tem que partilhada por todos os elos sem excepção, se um não está bem, todos zelam por ele e por elevá-lo à sua condição natural de felicidade. Também não existe vitória nem derrota nem empate porque o jogo não tem fim. Existe apenas cada momento, cada instante, cada experiência de cada um no presente e onde se encontra. Paz é capacidade de transformarmos esses momentos e experiências em actos de amor. Amor por nós próprios e por cada elo, para nós próprios e para cada elo. O estado do “adversário” é sempre o espelho do nosso contributo.

A continuar…

M.A.S.

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