segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 16

Obrigado pelas perspectivas sobre a vida que despertas em mim. Parte da nossa vida social é passada em convívio com os amigos ou conhecidos. Há uma partilha de momentos, de experiências, de vivências, das coisas novas e das coisas velhas. Mas uma boa parte do conteúdo destas conversas diárias, desta partilha é sobre problemas e queixas. Isto serve para procurarmos suporte e apoio, e demasiadas vezes com sucesso, para descarregarmos as nossas frustrações e falta de carácter em cima de alguém que não está presente para apresentar a sua versão. E quando não sentimos esse apoio vamos contando o mesmo à próxima pessoa, e à próxima, até alguém nos entender ou concordar connosco. Cada um cria, assim, a sua rede de maledicência, alimentando o seu próprio ego à custa da denegrição de alguém. Não seria muito mais interessante as pessoas juntarem-se e nesse precioso tempo juntas, aproveitarem para criar/encontrar soluções para problemas comuns? É que existe um outro senão relacionado com isto. Esse tempo em convívio deve ser de paz de espírito e de porta aberta à criatividade para surgirem as soluções. Se o ocupamos com problemas e preocupações, queixas e lamentações, bloqueia-se o “arejamento” das ideias, e permanecemos na nossa perspectiva pré-programa das situações. É necessário dar espaço a outros ângulos, novas perspectivas, algo que nunca tínhamos considerado antes, nem experimentado, mas que estamos dispostos a aceitar como possível solução. Normalmente isto acontece associado ao “já-não-tenho-nada-a-perder” então experimento o tal plano B. Por vezes até funciona a tal solução, embora surja pela janela de oportunidade criada pelo desespero que fez baixar as defesas e abrir-se a uma nova perspectiva. Alguém disse um dia: “quando não souberes o que hás-de fazer, pergunta a uma criança”. O problema não é perguntar, é se estamos prontos para a resposta, que quase sempre não é de alimento ao nosso ego mas de desprendimento do mesmo. Desprender-se é despreocupar-se. Despreocupar-se não é sinal de menos amor ou interesse por algo ou alguém, pelo contrário, é disponibilizar mais recursos próprios e tempo para se ocupar desse amor de modo a vivê-lo mais intensamente.
Para mim o tempo é algo de precioso. Se alguém se oferecesse para me comprar um ano de vida, eu diria que não há dinheiro que o comprasse. Se cada minuto é assim tão valioso tem que ser empregue em algo igualmente valioso, que nos faça sentir bem, estar bem, nos deixa bem dispostos ou em algo que necessitamos. Então para quê se continuar a empregar esse tempo precioso em coisas ridículas, desnecessárias e acessórias, com tantas coisas por resolver nas nossas vidas? Na verdade é para nos esquecermos (ou não nos lembrarmos) precisamente dessas coisas. Mas adiamento e solução são dois conceitos diferentes. A solução implica decisão e acção. O adiamento não implica nada, apenas preguiça. Como é feio ser-se preguiçoso sozinho, procura-se companhia e já não parece tão mal. E procura-se concordância junto das outras pessoas para se ganhar força para a inacção. Uma criança nunca adia nada. Tudo é sempre o mais importante a fazer naquele momento do que outra coisa qualquer. Paz é a capacidade de não se adiar a si próprio justificando-se com o adiamento de si próprios de cada um dos outros. A beleza não é algo que se adie. Sê belo(a) e radiante tal como és, aceita-te assim e assume-te, confiante. Paz é a capacidade de se ser permanente mesmo na inconstância.

A continuar…

M.A.S.

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