segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 7

Obrigado por sentires vontade de ler este artigo. Ele existe com o único propósito que é tocar no coração de cada um a música não que queria ouvir, não a que gostava de ouvir, nem tão pouco a que deve ouvir, mas sim a música que sempre (h)ouve. Do início da eternidade até ao seu fim, em todos instantes soou, soa e soará o diapasão do amor que nos mantém afinados ao longo da nossa existência. Do diapasão sai a nota da paz omnipresente e omnissoante na vida de todos e de cada um. Uns optam por ignorá-la e passam pela vida desafinados consigo mesmos e/ou com os outros e nada do que fazem parece resultar, quer seja trabalho quer sejam relações. Outros sentem que há algo mais a orientar as suas vidas, sem que hajam grandes explicações ou necessidade delas, chamam-lhe fé. A fé, tal como todos os restantes atributos divinos, tem a vantagem de ser completamente grátis. Se o dinheiro fosse uma necessidade básica elementar e atributo divino, não acredito que nascêssemos nus, sem um tostão nem sequer um bolso para o guardar. No entanto, nascemos com um coração, uma mente, e um conjunto de atributos mais ou menos despertos em cada um, que nos caracterizam e, quer gostemos quer não, quer percebamos ou não por que gostamos mais de uns e menos de outros atributos, todos eles fazem igual parte deste ser maravilhoso que é cada um de nós. Dizia que a fé é um atributo grátis. Até tem enquadramento científico uma vez que não se cria, não se perde, mas em tudo o que toca transforma. Para além disso não tem jóia, anuidade, nem prazo de validade, e é chave-na-mão. Contudo, apesar da gratuitidade divina, é dos atributos à volta do qual mais negócio se faz e mais dinheiro gera. Não me constou, até hoje, que as entidades divinas quaisquer que fossem, independentemente da crença de cada um, cobrassem imposto sobre a fé que tão amorosamente cederam em cada obra da criação. Nem que tivessem bancos para guardar o retorno das oferendas em nome da fé. Pegando numa frase famosa e dando-lhe um retoque, a Deus o que é de Deus, ao Homem o que é do Homem. A fé não é um título do qual alguém se possa apropriar e negociar com os demais. A fé é uma ferramenta. Comunitária e individual, daí se poderem originar alguns mal-entendidos. E não é uma ferramenta de casualidades, de medida e actuação estatística, do tipo: “Eu creio ou necessito de algo. Se acender 3 velas as minhas hipóteses de ser bem sucedido são maiores do que se acender só 2. Outro dilema, compro 3 velas de 1€ ou de 5€?”. A fé é uma ferramenta da certeza, da entrega pura e total, ao serviço de si e dos outros. Nem sequer é egoísmo querer servir-se também a si próprio. Como podemos semear algo se não temos a semente? Há que encontrar primeiro a sua semente. A fé não funciona com a dúvida: “Se não resultar posso sempre voltar mais tarde com 4 velas!”. Não servir dois senhores. Ou se é pela fé, fruto da certeza, ou se fica na dúvida e nela se permanece. Apesar do tom religioso deste artigo, tudo tem aplicação em tudo o resto. Como podemos sair duma pretensa crise, se não temos fé de que dela podemos sair? Como podemos arranjar um emprego se não temos fé que hajam disponíveis? Como podemos querer ter filhos e ser férteis na sua concepção se não temos fé que os possamos ajudar a crescer e no seu futuro? Na dúvida a fé é eFÉmera, na certeza a fé é eFÉctiva. A dúvida não vem da fé, mas sim de si mesmo, de cada um. É para isso que serve o consolo de pagar seja o que for para que a fé tenha a certeza que nós acreditamos nela. Isto é: “Se o dinheiro me custa tanto a ganhar e me faz falta para tanta coisa, se eu investir num artigo de fé, então é porque realmente acredito, tenho fé.”
A maior prova da fé em acção (ou será da acção da fé?) são as crianças. O que não existe na matéria cria-se na imaginação. Não reconhecem na mesma frase as palavras “limite” e “felicidade”. Em tudo o que fazem dão-se, entregam-se, partilham-se. Amo todas as crianças, de todas as idades. A todas elas, a todos vocês, a todos nós, dou os parabéns no dia de hoje. Aproveitem este dia e comemorem-se. Paz é a capacidade de reconhecermos vivo em nós o que de mais belo reconhecemos vivo nos demais. E a beleza não é um acto de fé, mas sim a fé em acção.

A continuar…

M.A.S.

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