segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 13

Obrigado pela tua amorosa e pacífica essência. Muitas vezes não percebemos quem na realidade somos. E por isso perdemo-nos nas direcções que tomamos, num género de deriva existencial e no final não chegamos a perceber nem o que somos nem o que nos tornámos. É caso para dizer que qualquer semelhança entre a realidade e ilusão é pura coincidência. No entanto, no meio de tanta coisa que não faz sentido para nós e que por razões várias vivenciamos no dia-a-dia, podemos pegar naquelas que nos fazem vibrar e que sentimos que mexem bem lá dentro para redefinir o rumo que damos às nossas vidas. Repetindo o que tantas vezes já foi dito por inúmeros amigos, não interessa o que fomos, não interessa o que somos, mas sim naquilo que nos queremos tornar. E pegando na imagem da pessoa que gostaríamos de ser, o nosso ideal, é trazê-la desse imaginário e desse futuro longínquo e vivê-la agora e aqui. Poderão dizer que se assim fosse toda a gente iria achar que estão loucos, ou que andavam metidos em “coisas esquisitas”, e que com isso iriam sentir-se desmotivados e acabavam por voltar à rotina do universalmente aceite. Mas, pelo menos para mim, a paz não é uma coisa esquisita, nem o amor, nem a amizade, nem o respeito, a partilha, a segurança, a dedicação, a integridade, a ética, a entrega, a serenidade, a simplicidade, a inocência, a felicidade. Também como já referi numa outra ocasião, estas propriedades intrínsecas de que somos compostos não devem ser vistas e tratadas como metas. Elas são as ferramentas, os meios, através das quais metemos logo em prática aquele ser que temos como ideal para nós. Se a felicidade fosse um objectivo da nossa vida, tudo o que fazemos para lá chegar seriam momentos de não-felicidade. É óbvio que isto não corresponde à verdade, portanto convém desde já eliminar esta “verdade” da nossas vidas. Assim, a felicidade não é algo a que se aspire, bem como todas as outras características atrás enumeradas. Não é um bem tangível ao qual se tem direito se trabalharmos arduamente, com esforço e sacrifício. É uma característica inerente ao que somos, faz parte de nós, do nosso ADN. Somos seres de felicidade e paz que por uma razão qualquer, e cada um terá as suas, se afastou dessa realidade, e por isso se sente incompleto e insatisfeito. E como a verdadeira razão da constante insatisfação na vida não é reconhecida na sua essência, entram em acção mecanismos de compensação dentro do mundo da ilusão. Procura-se compensar com bens materiais, com procura de status, em resumo compensa-se o mundo do Ser com o mundo do Ter. Esta compensação é do tipo “em vez de”. Na verdade o que deveríamos ter, pelo menos neste momento, era um “também”, um complemento e não uma exclusão. Numa vida harmoniosa há lugar até para uma vida cheia de sucessos materiais, uma vida de abundância em equilíbrio, abundância/riqueza interior, e também abundância/riqueza exterior. Para uma vida em Paz temos que estar em paz com o que somos e em paz com o que temos. Não há lugar à vergonha ou sentimentos de culpa, por ter, por não ter, por ser, ou por não ser. Cada um procurará em si quais são, então, as razões desse afastamento do ser pacífico e amoroso que é. Se eu sei que para estar em paz tenho que resolver uma relação desavinda com alguém que era suposto amar, se no meu ideal eu deveria estar a amar essa pessoa, então resolvo dentro de mim a desavença e pratico o amor que idealizo. Paz é a capacidade de sarar feridas e de perdoar as cicatrizes.

A continuar…

M.A.S.

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