segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 8

Obrigado. Sinto-me sempre impelido a agradecer. O agradecimento, o dar graças, a gratidão, é uma forma subtil de a ou as pessoas a quem se agradece sentirem que fazem parte da nossa vida, e sentirem-se úteis a alguém, motivadas a continuar a sua vida, mesmo crendo que esta é fútil e sem importância para os demais. Porém, a vida é em si mesma, uma acção de graças. É uma compilação de pequenas perfeições que resultam em pleno, infalíveis, fruto de um propósito que servem exemplarmente. Há quem diga que cada um tem a vida que merece. Outros dirão que têm a vida que fazem por merecer. Outros ainda que têm a que é possível. Outros que isto assim não é vida nenhuma. Todos se referem às suas realidades, com base nas suas experiências, expectativas, desilusões e sonhos. O sonho é o motor da vida. É a transcendência da sua segurança, do que lhe é conhecido e palpável para a região do desconhecido e mais além. Toda a expectativa, sucesso, insucesso, desilusão, êxtase, nasce do sonho original que cada um tem para si e para a sua vida. Falo do original, porque quando se sucedem as etapas que o concretizam, muitas vezes surgem sonhos parasitas influenciados, sobretudo, por uma sociedade pré-formatada. O sonho transcende toda a pré-formatação, é uma expressão colossal de liberdade e expansão. Expansão no sentido de sair de si próprio e chegar aos outros, não de invasão, trazendo-lhes, ou melhor, devolvendo-lhes o sentido da certeza do resultado do sonho original, individual. Simplificando, quando os nossos sonhos se ficam pela vida económica melhor, carro melhor, casa melhor, mais salário, Benfica campeão, Portugal campeão, sendo todos eles respeitáveis, falta algo. Falta sempre o fio condutor que reúne os sonhos. No sonho original há sempre um componente de unidade ao sonho do outro, que une ao sonho do outro, até criar uma matriz, uma teia, uma união inequívoca, um sonho que é ao mesmo tempo individual e comum a todos, onde realizar o meu sonho é realizar o teu, vice-versa e versa-vice, realizar o teu sonho é realizar o meu. Realizar sonhos é um fenómeno sem sentido. Por certo já terás sentido que não faz sentido haver sentido no realizar do sonho! Como assim? Quando se realizam os sonhos, o que é dentro assim será fora, o que é em cima, assim será em baixo. Não há sentido, direccionalidade, funciona em omnipresença. A fonte é ao mesmo tempo a foz, o alfa é ao mesmo tempo o ómega, o princípio é o fim. Por outro lado, não faz sentido realizar sonhos. Mau! Só confusões e contradições?! A vida é já o sonho em acção. É o sonho e o estado de graça pelo mesmo. Daí o agradecimento inicial. Estou grato pelo sonho manifestado. Estou grato por estares aqui, por estarmos juntos. És parte do sonho que tenho para a minha vida. Tens um papel único, intransmissível. A única coisa que tens que fazer, não é sonhar, é não boicotares o sonho com os outros “sonhos” que te desviam da tua felicidade prometida, devida, e pronta-a-servir. “Pede e ser-te-á dado”. Mas nesta fase de mudança de consciências, escusas de pedir, é só: “serve-te que está pronta”. Ao “servirmo-nos” da felicidade, tal como quando acendemos uma luz numa sala, a sala ilumina-se para todos e não só para quem a acendeu, e todos beneficiam dessa luz reveladora. E, nesse estado “iluminado”, será mais fácil para os demais se verem a si mesmos e quem está à sua volta com uma clareza inexplicável. Na luz dos corações despertos só há lugar para a serenidade. A serenidade de saber que o sonho é a sua própria manifestação. Que a felicidade sonhada não é a que está inalcançável, uma mera ilusão, mas a que se pratica. Que o amor sonhado não é o que está inalcançável mas o que se pratica. Que o sucesso, o respeito, o amor-próprio, não são metas a alcançar mas sim o fruto da prática diária do sonho que um dia tivemos para nós, para os nossos ente-queridos, o nosso país, planeta, e o que de mais houver. Paz é a capacidade de desprogramarmos das nossas mentes todas as pré-formatações, regras de auto-destruição maciça de seres que nasceram do amor, com amor, e para o amor, mas que andam tão confundidos ao ponto de perguntarem o que andam cá a fazer. Paz é a própria intenção de querer mudar-se. Paz é o terreno fértil onde floresce e cresce viçoso o sonho da paz em nós.

A continuar…

M.A.S.

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