segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 11

Obrigado pelas confusões, mal-entendidos, incorrecções que trazes à vida, para que de um exemplo se possam tirar mil e uma soluções que sirvam a muitos. Que confusões e mal-entendidos serão esses? Na verdade é quase tudo. São um conjunto de situações, comportamentos, conceitos, encadeados entre si que fazem parecer que tudo está bem e correcto, e mesmo estando não está. Que confusão! Vamos a ver se não dá em mal-entendido! Se fizermos uma pequena reflexão sobre o nosso dia-a-dia, vamos encontrar um conjunto de comportamentos estereotipados, isto é, repetitivos, para cada situação/acontencimento um comportamento pré-definido, uma emoção pré-estabelecida. Exemplos: se alguém nos passa à frente numa fila temos que ralhar; se alguém nos apita no trânsito temos que nos enervar, apitar mais, e fazer gestos menos dignos; se algo corre mal e não nos agrada a culpa é do governo, do cônjuge, do vizinho, ou do patrão. Raramente somos convidados a reflectir sobre esses comportamentos e a definirmos para nós mesmos se ele nos serve, ou se serve alguém ou alguma coisa, que contributo traz à nossa vida. Para preencher este vazio de reflexão existem várias alternativas, umas mais recentes que outras, umas mais na moda que outras, umas mais eficazes que outras, mas todas se complementam, e no final nenhuma é pior ou melhor, apenas mais adequada à situação ou menos adequada. Como alternativas temos a televisão, as novelas, as séries, onde são sorvidos diversos comportamentos sociais. Os casos mais recentes são as séries juvenis: Morangos com Açúcar e Floribela. Outra alternativa são as religiões, sejam elas quais forem conforme a cultura, crença e identificação de cada um. Outra alternativa são outras culturas espirituais/espiritualistas que promovem o encontro de cada um consigo próprio como por exemplo o Yoga, meditação, relaxamento, Tai-Chi, etc. A dificuldade perante tamanha oferta é a mesma de quando havia pouca oferta, e que nos aparece sempre que existe uma alternativa: a escolha. Mas a pergunta que antes de responder a todas as outras devíamos fazer é: que significa para mim uma escolha? É uma atitude/acção/intenção de paz, de bem-estar, de serenidade, ou algo que me deixa sempre inquieto(a), inseguro(a), ao ponto de dificultar com frequência a tomada de decisões? A pior coisa que pode acontecer quando se tomou uma decisão é pensar que a outra alternativa era melhor. Neste momento toda a energia disponível para fazer resultar a decisão tomada ficou dividida. Temos o corpo num lado da escolha e a mente no outro lado, o da dúvida. A partir daqui nascem infinitas confusões e mal-entendidos. Pudera! Fez-me uma opção mas só entrámos nela a 50%. Os outros 50% ou estão em “stand-by” ou ficaram perdidos no “se eu tivesse…”. Não existem escolhas certas nem erradas. Nem melhores nem piores. Temos que nos lembrar que as escolhas têm dois júris a assistir: o coração e a razão. Não admira que não seja fácil decidir, fazer uma escolha. Mas pior ainda é não decidir, é deixar andar. Todos deixamos andar, uns mais outros menos. Quantos de nós não vemos coisas que não concordamos que aconteçam e depois não fazemos nada para o evitar ou para acabarem quanto antes? Há um espírito colectivo que deve ser reactivado quanto antes em todos nós. É o espírito do cardume e do bando de aves. Ou seja, quando um elemento vira à esquerda seguem todos para a esquerda, quando segue em frente todos seguem em frente. Em cada tomada de decisão há um acompanhamento, há um movimento ordenado, fluído, harmonioso do colectivo. Contudo, cada elemento tem que estar no seu melhor, para que o movimento ordenado não resulte em confusão e desorientação como tantas vezes vemos. Então, será que o nosso movimento diário se enquadra num colectivo construtivo? Ou de cada vez que damos um passo devemos meter em causa para onde nos mandam e que o melhor mesmo é estar parado? Não entraremos, assim, num estado de obediência cega? Não necessariamente. Paz é capacidade de vivermos em ordem sem ordens. Paz é o reencontro de cada um com o melhor de si e por isso torna infalível a qualidade de cada decisão que cada um toma e que afecta a sua vida e a dos outros.

A continuar…

M.A.S.

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