segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Estado de Paz - 3

Obrigado por fazer parte da versão bela da vida. Se a sua versão é outra, fique sabendo que está sempre a tempo de lhe fazer um “upgrade”, ou seja, uma actualização para uma versão mais completa, abrangente, com os erros do passado corrigidos, com novas funções, e da qual se espera melhor desempenho em todos os campos.

E a vida é tão mais bela quanto nós a descomplicarmos. Certo? Nem por isso. Por outras palavras, o que há a descomplicar? O nascer do sol? O ciclo natural da vida? O ciclo lunar? A rotação do planeta? O funcionamento complexo e ao mesmo tempo perfeito do nosso corpo? E do cosmos? Tudo na vida é naturalmente belo e maravilhoso. Obviamente que esta frase é questionável e profundamente subjectiva. Senão, onde enquadrar todo o sofrimento, dor, agonia, ódio, desentendimento, guerra, fundamentalismo, extremismo, terrorismo, fanatismo, a morte, a perda, os traumas, desgostos, a tristeza, a maldade? Ou será que não tem enquadramento? Por exemplo, se estivermos tristes, podemos decidir fazer uma viagem para o lugar dos nossos sonhos, para recarregarmos baterias, levantar o ânimo e voltarmos limpos para uma vida renovada. Mas ao chegarmos a esse lugar, no exacto instante em que lá chegamos a tristeza também está lá. Porquê? Porque já estava lá? Porque nos segue? Porque antecipa os nossos passos e não a conseguimos enganar? Ou porque a carregamos connosco? Quem diz tristeza diz tudo o resto. Nada mais há a descomplicar na vida do que a nós próprios. A vida proporciona na perfeição os cenários para que tudo aquilo a que nos propomos possa realizar-se e manifestar-se. TUDO! Então, o que tem andado a fazer de complicado de tal modo que a sua vida anda do avesso? O que tem dito, o que tem feito, o que tem pensado, sobretudo pensado, imaginado, ansiado, para que a materialização, aquilo a que chama de realidade, lhe seja tão dolorosa, tão contrária às suas expectativas, que sempre que pode se queixa de alguma coisa? De qualquer coisa? A queixa é a linguagem das rãs. Não é a linguagem do entendimento, da elevação, do esclarecimento, da serenidade de quem quer renovar-se e à sua vida, para que ela decorra com a simplicidade, a inocência e despreocupação de quando éramos crianças. Talvez seja hora, então, de se perguntar quando deixou de ser criança. Em que momento pensa que perdeu o brilho no olhar, o encantamento da vida, a energia radiante, envolvente e contagiante? A alegria espontânea, o riso fácil, a docilidade dos gestos, a pureza dos olhares? Voltemos ao lugar de sonho onde foi descarregar a tristeza ou stress ou seja o que for. Quando chegou ainda carregava esse peso. E da mesma maneira que decidiu que queria libertar-se do peso e o fez, o processo de recuperação do melhor de si próprio(a) é tal e qual. Dar tempo a si mesmo(a) de libertar-se das camadas de “complicação” que foram sendo depositadas em si e também por si ao longo do tempo, para descobrir que nunca deixou nem perdeu, a criança que, afinal, sempre existiu, existe e existirá em si.

Mas, em primeiro lugar tem que querer que assim seja. E depois de querer, fazer. Quanto do tempo do seu dia-a-dia é passado a agradecer? A comemorar o mínimo que seja que lhe corra bem? Muito pouco por certo. Todos fomos educados e preparados para que por muito que a vida nos corra bem, das duas uma: depois de meia vida passada a tentar ter alguma coisa a outra metade é passada a protegê-la para não a perder, ou tudo está a correr tão bem que o melhor é dizer que algo vai mal não vá chegar a conta de tanto sucesso e uma calamidade que deite tudo a perder. Então, o que fazer? Se pensava que ia encontrar aqui a receita para o seu sucesso e felicidade, e as respostas às perguntas que o(a) inquietam, enganou-se. A resposta é a outra face da pergunta. Se a pergunta nasce de si, encontre-se, e com o reencontro virá a resposta. Dizem que as crianças têm resposta para tudo. Seja uma.

A continuar…

M.A.S.

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